A família é um dom precioso, porque, esforçando-se
sinceramente por crescer no amor recíproco, contribui para renovar o próprio
tecido de todo corpo eclesial e social. (cf. AL 207).
Nós, bispos, padres, diáconos e leigos, do
Regional Leste 1 da CNBB, reunidos na 15ª Assembleia Geral, interpelados pelo
Ano Santo da Misericórdia, dirigimo-nos aos irmãos na Fé e a toda a sociedade
fluminense, no desejo de trazer a riqueza da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris
Laetitia (Alegria do Amor), do Papa Francisco. Desejamos que esta
Exortação seja acolhida e objeto de constante reflexão para as ações em favor
das famílias.
Reconhecemos que a realidade das famílias em
nosso Regional é complexa e de difícil síntese. Mesmo assim, desejamos
manifestar alguns pontos que nos causam maior preocupação. Reconhecemos que o
mundo de hoje passa por agudas transformações, que afetam a vida de todas as
pessoas, atingindo muito diretamente a realidade da família, que sofre com o
forte processo de individualização da vida, chegando mesmo ao extremo do
individualismo. Sentimos a influência da tecnologia sobre a vida das pessoas,
alterando comportamentos e valores. Preocupamo-nos com o consumismo, que,
ultrapassando o nível da relação com os objetos, atinge a relação com as
pessoas, levando à mentalidade do descartável. Preocupamo-nos também com a
crescente violência nas suas mais diversas formas. Esta violência se manifesta
vinculada a diversos fenômenos agudos, dentre os quais destacamos a drogadição,
o alcoolismo, a pedofilia e os processos educacionais mais voltados para as
lógicas do mercado do que para a transmissão de valores. Aumenta o
empobrecimento da população em geral, levando as famílias a experimentarem o
desemprego, a perda do lar, a fome e, em consequência, o esfacelamento.
Constatamos que a maioria das políticas de Estado não olham para a família em
seu conjunto, privilegiando mais o indivíduo e buscando afastar, em nome da
laicidade, a relação entre a fé e a vida familiar. Não podemos deixar de nos
preocupar com as inúmeras formas de desvalorização da vida, alimentadas por
forte pressão da mídia, em especial no que diz respeito à ideologia de gênero e
à legalização do aborto e da eutanásia. Angustiamo-nos por ver que a
afetividade e a sexualidade vêm se tornando cada vez mais desenfreadas e
desconectadas da vida matrimonial. Sabemos, por fim, que estes e outros
aspectos do mundo atual são conhecidos de todos. Voltamo-nos a eles por
acreditarmos ser impossível calar a voz enquanto eles não forem superados.
Ao mesmo tempo, alegramo-nos com o caminhar
de nossa Igreja no Regional Leste 1, concretizado em diversos aspectos, dentre os
quais destacamos o forte empenho na formação das pessoas à luz do Evangelho e
dos ensinamentos do Magistério da Igreja. São encontros, cursos e outros
momentos com as famílias e em favor das famílias. Alegramo-nos por ver a
crescente superação do isolamento pastoral, com o surgimento de parcerias,
setores mais abrangentes e outras formas criativas para a união das forças.
Alegramo-nos com o crescimento da perspectiva missionária, com inúmeras
experiências de visita às famílias, especialmente as que se encontram em
situações de maior necessidade. Constatamos que a realidade das chamadas novas
uniões vem sendo gradativa e cuidadosamente acolhida nas nossas comunidades e
que a preparação dos novos padres tem incluído estágios junto à Pastoral
Familiar.
Ao reconhecermos e mencionarmos estes sinais
de alegria, queremos manifestar nosso compromisso por continuar caminhando na
esperança rumo a uma Igreja que, sendo comunidade de comunidades, serviços e
ministérios, é casa da iniciação à vida cristã, sempre alimentada e fortalecida
pela Palavra de Deus, e cada vez mais a serviço da vida em todas as instâncias,
inclusive na vida da família como realidade querida por Deus. E este
compromisso nós desejamos realizar em estado permanente de missão.
Por isso, olhando para a frente e unidos em
torno da missão evangelizadora, convidamos todas as comunidades de nosso
Regional a assumir os seguintes compromissos:
1)
Implantar e valorizar a Pastoral Familiar, articulando-a com as demais
pastorais, movimentos e serviços.
2)
Capacitar agentes para atender às famílias em casos especiais e/ou em crises,
integrando-as na comunidade.
3)
Formar permanentemente o clero, seminaristas, agentes pastorais, movimentos e
serviços sobre o Magistério da Igreja a respeito da família, incluindo o
estágio dos seminaristas junto à Pastoral Familiar.
4)
Melhorar a preparação para o matrimônio nas três etapas, sendo personalizada,
com maior duração e unidade diocesana; incluindo o direito matrimonial e a
liturgia sacramental do matrimônio.
5)
Fortalecer a espiritualidade conjugal e familiar, favorecendo o surgimento de
vocações no seio das famílias.
6)
Motivar a participação cidadã das famílias, incluindo o cuidado com a Casa
Comum (cf. AL 277)
7)
Intensificar o serviço à vida plena, desde a concepção até o seu fim natural.
8)
Fomentar grupos de estudos católicos sobre a regulação da fertilidade humana e
promoção da vida.
9)
Ajudar as famílias a viver a dinâmica de uma Igreja em estado permanente de
missão.
10)
Voltar, sobretudo, o olhar para crianças em instituições, com incentivo à
adoção (cf AL 179-180).
11)
Articular escola e família, em favor de uma educação integral, que valorize o
ensino religioso, formando as consciências para o uso dos meios de comunicação
e novas mídias.
Por fim, sendo Igreja no Estado do Rio de
Janeiro, não podemos deixar de elevar ao Deus da Vida, do Amor, da Justiça e
Paz uma oração por esta parcela do Brasil que temos como lar. Preocupados com o
atual cenário vivenciado em nosso Estado, unimo-nos a todas as famílias, solidarizando-nos
especialmente com as que mais estão sofrendo. Pedimos ao Bom Deus coragem para
enfrentar, à luz do Evangelho, as dificuldades do dia a dia. Sabemos que,
principalmente nas horas de desespero, tendemos a buscar soluções rápidas e às
vezes violentas. O recurso, porém, à violência nunca é solução. As efetivas
soluções brotam da solidariedade, do diálogo e do sacrifício. Se grandes são os
problemas, maiores devem ser nossa capacidade de incansavelmente dialogar, a
força de nossa solidariedade e o cuidado para que os mais pobres não venham a
ser ainda mais onerados com uma dose desproporcional de sacrifício.
Queremos, portanto, ser uma Igreja sempre
mais presente na vida de todo o povo fluminense, intensificando nossa atitude
de serviço e solidariedade. Pedimos que cada comunidade, de acordo com a
realidade local, seja amplamente criativa para expandir as atividades já
existentes a fim de socorrer pessoas e famílias vitimadas pelas consequências
do atual momento. O Ano Santo da Misericórdia já se encerrou, mas a
misericórdia precisa estar cada vez mais presente no nosso cotidiano.
Celebrando com todo o Brasil o Ano Mariano,
suplicamos à Mãe de Jesus, Nossa Senhora da Conceição Aparecida e Rainha das
Famílias, que interceda por nós e nos ajude a seguir seu exemplo, enfrentando e
superando com fé e esperança os momentos difíceis da vida.
Avancemos, famílias; continuemos a caminhar!
Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos
nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e
comunhão que nos foi prometida. (AL 325)
Rio
de Janeiro, 19 de novembro de 2016
Orani
João Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro
Presidente do Regional Leste 1 da CNBB
Dom Luciano Bergamin, CRL
Bispo de Nova Iguaçu
Vice-Presidente do Regional Leste 1 da CNBB
Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo de Niterói
Secretário do Regional Leste 1 da CNBB
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/5127/nota-do-regional-leste-1-da-cnbb-sobre-a-riqueza-da-exortacao-apostolica-pos-sinodal-amoris-laetitia
Nenhum comentário:
Postar um comentário