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Por Dom Antonio Dias
Duarte
(Bispo Auxiliar da Arquidiocese
do Rio)
Só depois que estudei nos bons
colégios de São Paulo e numa das melhores faculdades de Medicina do Brasil, a
da Universidade de São Paulo é que percebi uma realidade na vida. Só depois que
aprofundei na Teologia Católica doutorando-me com uma tese que me custou sangue
e só depois de 34 anos de sacerdócio, dos quais os 7 últimos como Bispo
Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, é que confirmei essa minha
percepção. Descobri que os meus pais e os meus mestres “mentiram” para mim.
Os meus pais “mentiram” quando eles
me ensinaram, e eu vi com meus próprios olhos, que o casamento é fundamentado
no amor indissolúvel e fecundo entre um homem e uma mulher.
Os meus pais “mentiram”
mostrando-me, com suas vidas sacrificadas e heroicas, que a honestidade e o
trabalho andam de mãos dadas e o estudo e a profissão não são só para ganhar
dinheiro, mas é para sustentar-nos e colaborar com os mais pobres e
necessitados.
Os meus pais “mentiram” dizendo que
os filhos são uma dádiva de Deus e que eles vêm do amor entre eles e que ser
mãe e ser pai é uma enorme alegria, mesmo quando nós fomos concebidos e os
surpreendemos fora dos seus planejamentos.
Os meus pais “mentiram” ensinando a
mim e aos meus irmãos que a Igreja Católica é uma Mãe melhor que eles e que
segui-la na doutrina e na moral só nos faria pessoas mais livres e felizes.
Os meus pais “mentiram” afirmando
que o Papa, os Bispos e os padres são, certamente, pessoas felizes, mas trazem
para o mundo, com os sacramentos e com a Palavra, o que o mundo não é capaz de
dar, o Emanuel, o Deus-conosco.
Os meus pais “mentiram” quando me
matricularam em colégios onde o ensino religiosos neles administrado
demonstrava ser um grande benefício para o meu futuro e que deveria estudar
religião com o mesmo empenho que as outras disciplinas.
Os meus pais “mentiram” exortando-me
para a cidadania, para a obediência às leis e para o respeito aos nossos
governantes e que até rezasse por eles.
E os meus mestres, “mentiram” para
mim? Foram outros grandes “mentirosos”!
Desde o primário até o ginásio
ensinaram-me Educação Moral e Cívica, matéria que ocupava o tempo que poderia
estar jogando futebol, e nessa matéria diziam-me que nos Três Poderes, o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário tinham pessoas íntegras e competentes e
que elas eram a favor do povo, da família, da vida, do casamento, da saúde,
etc., e, sobretudo, do bem da nação brasileira.
Na faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo os meus professores “mentiram” com a maior “cara de
pau”. Começando pelos professores de Anatomia, pois eles “mentiram” quando
exigiam respeito aos ossos dos cadáveres e aos corpos dos indigentes que eram
dissecados para o aprendizado do corpo humano.
“Mentiram descaradamente” ao
proferirem nos anfiteatros da Faculdade ou junto aos leitos hospitalares que a
finalidade dos médicos é salvar vidas e quando chegasse o momento que não
conseguíssemos mais esse objetivo deveríamos aliviar os sofrimentos dos nossos
pacientes e não criar outros.
No Curso de Ética Médica o mestre
especialista dessa matéria “mentiu impunemente”, pois dizia, dentro do seu
avental branco e impoluto , que o juramento médico – o de Hipócrates – não era
um fingimento, mas um compromisso em favor da dignidade da nossa profissão e do
valor inegociável da vida humana.
E quantos médicos e residentes, meus
professores durante a prática médica em enfermarias e no Pronto-socorro do
Hospital das Clínicas, “mentiram” sem que lhes crescessem os narizes, porque me
diziam que não deveria, jamais e sob nenhuma hipótese, ser colaborador de
pessoas e de organismos públicos e privados que só têm interesses econômicos,
políticos e ideológicos e só querem que os médicos façam aborto, eutanásia,
castração das mulheres, etc... Mentiram quando garantiram que ser médico é ser a
favor da dignidade da pessoa e da vida sempre!
Durante os anos de formação para o
sacerdócio e na vida pastoral, e agora episcopal, também houve “mentiras”. “Mentiram”
para mim ao dizer que a Igreja é Una, Santa, Católica, Apostólica, Romana. Que
a moral católica era ensinada e defendida tanto por leigos e padres, todos
juntos, consumados na unidade, e que ser a favor do casamento entre homem e
mulher, a favor da confissão e do celibato, da recepção da comunhão em estado
de graça e da liturgia vivida com dignidade seguindo os ritos, eram, todas
essas atitudes, sinais de amor a Deus e não só cumprimento de leis humanas.
“Mentiram” também os meus formadores
ao valorizarem a obediência ao Papa e ao Magistério da Igreja, a fraternidade
sacerdotal, a comunhão com os Bispos, a maturidade afetiva tão importante para
a vida em comunidade, o amor ao povo, a dedicação intensa e exclusiva ao
ministério pastoral, etc.
Quantas “mentiras”, mas na verdade
não foram mentiras, por isso coloquei entre aspas essa palavra, aliás, nunca
ouvi sair dos lábios dos meus pais e mestres nenhuma mentira em termos de
valores. Na realidade eram as grandes Verdades da vida!
O quanto devo agradecer a eles pela
fidelidade que souberam viver e, sobretudo, pela coragem e pelo amor que a mim
dedicaram, porque não foram “politicamente corretos”, porque cederam às
pressões culturais, porque não permitiram que houvesse “buracos negros” na
minha consciência.
Graças aos meus pais e mestres que
me ensinaram a boa ciência e a boa teologia, hoje eu amo e defendo a vida
humana desde a sua concepção até a sua morte natural.
Eu amo e defendo o casamento entre
um homem e uma mulher e fico admirado como o amor íntimo entre eles é fonte de
afetos e prazeres, mas é principalmente, fonte de santidade matrimonial e de
vida transmitida aos filhos.
Eu amo e defendo as verdades
buscadas inteligentemente, não permitindo a manipulação ideológica e cultural
da minha razão, pois com ela eu participo – com limites, é claro! – da
Inteligência de Deus.
Eu amo e defendo o mundo, que saiu
bom das mãos do Criador, e que devo servi-Lo com paixão procurando o seu bem e
o bem de todos os homens.
Eu amo e defendo as pessoas que
sofrem, no corpo e no espírito, com o desemprego, com as drogas, com as
injustiças, com as mentiras ditas pelos politicamente corretos, e busco com
outras pessoas de boa vontade as autênticas soluções sociais que correspondam à
dignidade humana.
Eu amo e defendo a liberdade humana
e sei que só com liberdade na verdade que poderei realizar-me como homem e
contribuir para que meus irmãos e irmãs sejam livres em sociedade.
Eu amo e defendo as leis do meu
país, desde que sejam realmente justas e benéficas para todos, sem
favorecimento de grupos menores, e por isso mesmo é que respeito os
governantes, os legisladores, os juristas, homens que devem atuar conscientes
de que, um dia, prestarão contas ao Supremo Legislador como eu também irei
prestar.
Amo e defendo todas as pessoas que
vivem a mesma época que vivo e independentemente de suas opções de vida, não as
discrimino, nem sou intolerante com elas, mesmo quando elas não obedecendo a
Deus, preferem obedecer seus impulsos ou seus interesses sombrios.
Eu amo e defendo, com todas as
forças da minha vida, a Santa Mãe, a Igreja, o Papa, os Bispos, os padres, a
doutrina de fé e de moral presente no Catecismo e nos documentos do seu
Magistério e nunca vacilo quando devo obedecer antes a Deus do que aos homens.
Eu amo e defendo a Verdade, o Bem e
a Beleza, categorias divinas e humanas que estão acima das pesquisas de opinião
pública, dos censos nacionais, dos debates nas redes televisivas e sociais, e
por meio dessas três realidades encontro-me com Deus Uno e Trino, origem e
destino da vida de todos os meus companheiros e companheiras de viagem nesse
planeta maravilhoso, que é a Terra.
Pais e mestres, vocês são os
referenciais das crianças e dos jovens! Não abdiquem dessa bela missão de
informar e de formar cidadãos das duas cidades, a terrena e a eterna, porque o
dia em que vocês começarem a ser “politicamente corretos”, nesse mesmo dia
vocês começarão a ser “autenticamente Pinóquios” para seus filhos e alunos.
Não mintam sobre Deus, sobre a
família, sobre a Igreja, sobre o valor da vida em geral, especialmente sobre a
dignidade e a inviolabilidade da vida humana!
Não mintam sobre a identidade do
homem e da mulher, sobre o amor humano mais forte e mais realizador do que os
afetos sensíveis, nem sobre a formosura do casamento e da educação dos filhos
para esse amor!
Por favor, pais e mestres, sejam
autênticos, sejam corajosos, sejam retos e corretos, sejam limpos nas
consciências e limpos, lúcidos e leis com seus ensinamentos!
Feliz dia das mães, feliz dia dos pais,
feliz dia do Professor!
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