Dom
Josef Karl Romer
Bispo
auxiliar emérito do Rio de Janeiro
É significativo que o Papa Francisco tenha
assinado no dia 19 de março 2016, dia de São José, Patrono da família, este
texto pós-sinodal sobre o amor, fundamento, vigor e fonte de alegria na
família. O texto é amplo, com 325 parágrafos (números). A breve introdução (nn.
1-7) esboça a intenção e a estrutura do texto. Logo de entrada aparece a força
envolvente do tema: “A alegria do amor, vivido nas famílias... é também o
júbilo da Igreja” (n 1).
Os dois sínodos dos Bispos (2014 e 2015)
revelaram a realidade das famílias, suas crises e suas potencialidades em todos
os Continentes. O Papa acolhe os desafios e as alegrias da beleza da família e
leva tudo a um aprofundamento e uma exposição sistemática em nove capítulos:
Capítulo I: colocar-se sob a luz da Palavra de Deus; cap. II: a realidade dos
desafios; cap. III: Jesus recupera o projeto divino da família; cap. IV: o amor
no matrimônio; cap. V: o amor fecundo; cap. VI: perspectivas pastorais; cap.
VII: família, lugar ideal da educação, e seus desafios; cap. VIII: situações
“irregulares” e a lógica da misericórdia; cap. IX: espiritualidade conjugal e
familiar.
Já na introdução (n. 7), o Papa insinua que
os esposos leiam com maior interesse e proveito os dois capítulos principais: o
IV e o V. Os agentes de pastoral, porém, aproveitarão singularmente da leitura
do capítulo VI. Todos, certamente, se enriquecerão com o capítulo VIII.
Devido à variada riqueza do texto e sua
“inevitável extensão”, o Papa aconselha que não se faça “uma leitura geral
apressada”. Será melhor “aprofundar pacientemente uma parte de cada vez” (n.
7).
O capítulo IV, que é, juntamente com o cap.
V, parte principal do documento, oferece-nos um texto singularmente prático e
claro. É, no entanto, indispensável perceber que o amor – aqui tratado como
essencial e fundamental para a família é um tema radicalmente geral, que
ilumina e forma todas as formas autênticas de convivência humana. Toda
convivência na Igreja, na pastoral, na comunidade religiosa, na amizade está em
seu íntimo caracterizada por aquilo que o Papa fala sobre o amor dentro da
família. Para descrever a inesgotável riqueza do amor, o Papa segue o “hino à
caridade” que São Paulo descreve em 1Cor 13,4-7:
“O amor é paciente, é benfazejo, não é
invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho, nada faz de vergonhoso, não
é interesseiro, não se encoleriza, nem leva em conta o mal sofrido, não se
alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Desculpa tudo, crê
tudo, espera tudo, suporta tudo”.
O amor é paciente: o sentido se encontra já
no Antigo Testamento. Deus é paciente, porque “é lento para a ira” (Nm 14,18;
cf. Ex 34,6; Sab 11,23; 12,2.15-18’). “A paciência é uma qualidade do Deus da
Aliança, que quer “dar tempo para o arrependimento” e que “convida a imitá-Lo
também na vida familiar”. “A paciência de Deus é exercício de misericórdia”
(n.91).
Todavia, a paciência “não deixa que
permanentemente nos maltratem, nem tolera agressões físicas, nem permite que
nos tratem como objetos”. Errada é uma visão idílica, supondo que as pessoas
sejam perfeitas.
O autêntico amor “possui sempre um sentido de
profunda compaixão, que faz aceitar o outro como parte deste mundo, mesmo
quando age de modo diferente daquilo que eu desejaria” (92).
Os números 93 e 94 mostram que a paciência
“não é uma postura totalmente passiva, mas há de ser acompanhada por uma
atividade, uma reação dinâmica e criativa perante os outros”. Por isso, o hino
de S. Paulo coloca após a paciência a “atitude benfazeja do serviço”. Assim, em
At 20,35, São Paulo atribui a Jesus a frase: “É maior felicidade dar que
receber”. E Santo Inácio de Loyola ensina: “O amor deve ser colocado mais nas
obras do que nas palavras”.
O Papa elabora sabiamente todas as qualidades
que Paulo atribui ao amor. E mostra ainda outros aspectos.
A cuidadosa leitura de todo o capítulo IV,
nn. 89-164, é um eminente exercício de penetrar no pensamento do Papa. Depois
se abrem perspectivas para todo o documento.
O Papa Francisco termina seu texto com a
oração à Sagrada Família:
Jesus, Maria e José,
em Vós contemplamos
o esplendor do verdadeiro
amor,
confiantes, a Vós nos
consagramos.
Sagrada Família de Nazaré,
tornai também as nossas
famílias
lugares de comunhão e
cenáculos de oração,
autênticas escolas do
Evangelho
e pequenas igrejas
domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
que nunca mais haja nas
famílias
episódios de violência, de
fechamento e divisão;
e quem tiver sido ferido ou
escandalizado
seja rapidamente consolado e
curado.
Sagrada Família de Nazaré,
fazei que todos nos tornemos
conscientes
do caráter sagrado e
inviolável da família,
da sua beleza no projeto de
Deus.
Jesus, Maria e José,
ouvi-nos e acolhei a nossa
súplica.
Amém!
Fonte:
Jornal Testemunho de Fé, página 18
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