quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Papa: O amor exprime-se em pequenas coisas, que fazem com que a vida tenha sabor de casa

            "O amor exprime-se em pequenas coisas, na atenção aos detalhes de cada dia que fazem com que a vida tenha sempre sabor de casa". Com um forte apelo para nos abrirmos  “aos milagres de amor”, que superam o “amor mesquinho e desconfiado, fechado em si mesmo”, e à realização dos pequenos gestos cotidianos de amor, o Papa Francisco presidiu a missa conclusiva do VIII Encontro Mundial das Famílias e também desta que foi sua 10ª viagem apostólica internacional.
            Diante de milhares de fieis reunidos no Parque Benjamim Franklin, na Filadélfia, e inspirado na “linguagem alegórica forte” que nos interpela e nas “imagens vigorosas que questionam as nossas reflexões”, propostas pelas leituras do dia, o Santo Padre chamou a atenção para a hostilidade das pessoas que não aceitavam aquilo que Jesus fazia e dizia. Para elas “a abertura de Jesus à fé honesta e sincera de muitas pessoas, que não faziam parte do povo eleito de Deus, parecia intolerável”. Mas a liberdade com que Deus agia - “ultrapassando a burocracia, o oficial e os círculos restritos” - levava ao risco de escandalizar mesmo os discípulos que agiam de boa fé ao tentar proteger as regras - pois “ameaça a autenticidade da fé e por isto deve ser vigorosamente rejeitada”.
            Para Jesus, no entanto, “o escândalo intolerável, consiste em tudo aquilo que destrói e corrompe a nossa confiança no modo de agir do Espírito”. “Deus, nosso Pai – disse o Papa – não se deixa vencer em generosidade" e “semeia a sua presença no mundo”, “somos procurados por ele, ele está à nossa espera. É esta confiança que leva o discípulo a estimular, acompanhar e fazer crescer todas as boas iniciativas que existem ao seu redor”:
            “Deus quer que todos os seus filhos tomem parte na festa do Evangelho. Não ponhais obstáculo ao que é bom – diz Jesus –, antes pelo contrário, ajudai-o a crescer. Pôr em dúvida a obra do Espírito, dar a impressão de que a mesma não tem nada a ver com aqueles que não são «do nosso grupo», que não são «como nós», é uma tentação perigosa. Não só bloqueia a conversão à fé, mas constitui uma perversão da fé”.
            O Papa reitera que a fé “abre a janela à presença operante do Espírito e demonstra-nos que a santidade, tal como a felicidade, está sempre ligada aos pequenos gestos”:
            “São gestos mínimos, que uma pessoa aprende em casa; gestos de família que se perdem no anonimato da vida diária, mas que fazem cada dia diferente do outro. São gestos de mãe, de avó, de pai, de avô, de filho. São gestos de ternura, de afeto, de compaixão. Gestos como o prato quente de quem espera para jantar, como o café da manhã de quem sabe acompanhar o levantar na alvorada. São gestos familiares. É a bênção antes de dormir, e o abraço ao regressar duma jornada de trabalho. O amor exprime-se em pequenas coisas, na atenção aos detalhes de cada dia que fazem com que a vida tenha sempre sabor de casa”.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Em Cuba, Papa Francisco encerra viagem com discurso para as famílias

Em último dia de sua passagem por Cuba, Papa Francisco enalteceu a família como escola da humanidade 

            Em seu último dia de visita pastoral a Cuba, o Papa Francisco se encontrou com as famílias cubanas na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, nesta terça, 22, na cidade de Santiago. Em seu discurso, o Pontífice agradeceu o acolhimento que recebeu em sua passagem pelo arquipélago, enaltecendo que se sentiu em casa durante estes dias.
            “Concluir a minha visita vivendo este encontro em família é motivo para agradecer a Deus pelo ‘calor’ que brota de gente que sabe receber, que sabe acolher, que sabe fazer sentir-se em casa. Obrigado!”, disse Francisco.
            Papa Francisco iniciou o seu discurso agradecendo a coragem de um casal que testemunhou para todos os presentes “os seus anseios e esforços para viver no lar como uma ‘Igreja doméstica’”.
             “A comunidade cristã designa as famílias pelo nome de igrejas domésticas, porque é no calor do lar onde a fé permeia cada canto, ilumina cada espaço, constrói comunidade; porque foi em momentos assim que as pessoas começaram a descobrir o amor concreto e operante de Deus”, explicou o Papa.
            Utilizando-se do Evangelho de São João na passagem bíblica das bodas de Caná, e também a relação de amizade de Jesus com Lázaro, Marta e Maria, o Santo Padre exemplificou sobre a importância do ambiente familiar e das relações de amor e afeto que se formam.
            “Jesus escolhe estes momentos para nos mostrar o amor de Deus, Jesus escolhe estes espaços para entrar nas nossas casas e ajudar-nos a descobrir o Espírito vivo e atuante nas nossas realidades cotidianas. É em casa onde aprendemos a fraternidade, a solidariedade, o não ser prepotentes. É em casa onde aprendemos a receber e agradecer a vida como uma bênção, e aprendemos que cada um precisa dos outros para seguir em frente. É em casa onde experimentamos o perdão, e somos continuamente convidados a perdoar, a deixarmo-nos transformar. Em casa, não há lugar para ‘máscaras': somos aquilo que somos e, de uma forma ou de outra, somos convidados a procurar o melhor para os outros”, ressaltou o Papa.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Celeridade nos processos matrimoniais

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

A Sala de Imprensa da Santa Sé, no dia 08 de setembro, apresentou dois novos documentos pontifícios (Motu Proprio) que dizem respeito claramente aos processos de nulidade matrimonial.
As alterações constam nos dois documentos “Mitis Iudex Dominus Iesus” (Senhor Jesus, manso juiz) e “Mitis et misericors Iesus” (Jesus, manso e misericordioso), ele contém as indicações para a reforma do processo de declaração de nulidade matrimonial e alteram o Código de Direito Canônico promulgado em 1983 por São João Paulo II e o Código de Cânones das Igrejas Orientais promulgado pelo mesmo santo em 22 de fevereiro de 1991.
De uma leitura do documento eu me deterei no que se refere ao Código de Direito Canônico (ou seja para a Igreja Latina): depreende-se de que o Santo Padre Francisco quer valorizar o papel do Bispo Diocesano como o supremo juiz em sua Igreja Particular, conforme doutrina do Concílio Vaticano II. Em se tratando de causas matrimoniais, em que a demanda é sempre muito grande, a grande novidade agora é que o casamento, quando se chega a certeza moral de que este é nulo, poderá ser declarado apenas por uma só sentença favorável para a nulidade executiva. Até o presente momento eram necessárias duas sentenças conformes, ou seja, iguais de nulidade, de primeiro e de segundo grau, ou de primeiro e de terceiro grau ou de segundo e de terceiro grau. Agora não será mais necessária a decisão de dois tribunais. Com a certeza moral do primeiro juiz (colegial ou monocrático), o matrimônio será declarado nulo.
A grande inovação que o Santo Padre nos presenteou é na inovação de juízo único. O que significa isso? Significa que um Juiz, no caso o próprio Bispo Diocesano, ou outro delegado por este, que é a única autoridade judiciária dentro de sua Diocese, poderá chegar a certeza moral da nulidade matrimonial. O bispo diocesano, via de regra, delega o seu poder judiciário para o vigário judicial. Este é aquele que faz as suas vezes, e em matéria judicial, o vigário do bispo é o seu vigário judicial. No exercício pastoral da própria “autoridade judicial”, o Bispo deverá assegurar que não haja atenuações ou abrandamentos. Isso é para que o processo esteja sob a responsabilidade do Bispo facilitando a celeridade do andamento processual, em que o processo seja mais ágil, porque justiça retardada é justiça negada na Igreja e em todos os âmbitos judiciários.