Se estamos indignados com o ponto a que
chegou a sociedade, em grande parte somos todos culpados pelos nossos exemplos
e palavras
“Eu
não aguento mais seu pai”
“Sua
mãe é uma louca”
“Maldita
a hora que eu me casei”
“Já
não chega o meu trabalho ainda tenho que te aturar”
Essas e outras frases do tipo são
extremamente comuns em – chute meu – 98% das famílias brasileiras. Em algum (ou
muitos) momentos de nossas vidas, escutamos de nossos pais frases do tipo,
vivenciamos brigas, situações desagradáveis, separações, sem mencionar as
muitas famílias que cotidianamente passam por violência física e sexual
explícita. Diante desse cenário, ver jovens e adultos sem o mínimo
interesse por constituir família torna-se, no mínimo, explicável.
Um dia desses conversava com amigos na faixa
dos 40-45 anos que ainda estão solteiros e não têm vontade nem perspectiva de
um casamento. Em um primeiro momento, vem o julgamento, mas depois, a escuta e,
finalmente, a compreensão. Pode ser que você, apesar dos problemas na sua
família, tenha boas famílias como exemplo, como referência. Mas, para
muitos é bem difícil encontrar algum bom exemplo de família. Apenas ódio,
desentendimentos, incompreensões, brigas e violência. “Por que me casar e repetir
a história dos meus pais? Não conheço uma família que não tenha violência ou
traição. Hoje em dia muitos casais acabam se separando…”. A vida
descompromissada, de diversão e sexo casual, serve como fuga para alguém que já
sofreu muito, que tem marcas, feridas e dores, e não quer repetir situações.
Em contrapartida, muitas famílias católicas
que deveriam ser bons exemplos, referências de família, também têm se tornado
grandes contra modelos familiares. Desde relatos de facebook até
conversas informais no ponto de ônibus – na frente dos filhos, diga-se de
passagem – em tudo há uma gota de reclamação e amargura. Pode ser a aparência,
que está mais descuidada, a falta de tempo, o mau comportamento dos filhos, o
esposo que não dá mais atenção, a esposa que ficou mais feia, a sogra, a
cunhada, a vizinha, o carro, as contas, o trabalho, os serviços
domésticos. Sempre há motivos para reclamar de algo e culpar o casamento
ou a família por isso – direta ou indiretamente. E não são só as famílias novas
as mais reclamonas, muitas vovós também dão aquele velho pitaco na vida alheia,
com o clássico conselho: “Não casa não, casamento só traz dor de cabeça!”.
Também cabe mencionar um cônjuge falando mal do outro para amigos, familiares
ou colegas de trabalho. Isso vai corroendo o amor dos dois – além de ser um
grande contra-testemunho.
Semana passada, o Papa Francisco afirmou
que “precisamos de famílias para curar a humanidade”. O Papa resumiu minhas
reflexões desses dias: sem bons exemplos familiares, nossas famílias estão
morrendo. Se estamos indignados com o ponto a que chegou a sociedade, em
grande parte somos todos culpados pelos nossos exemplos e palavras. Não adianta
estar enfurnado na Igreja o dia inteiro, fazer pregações, se a sua vida não
reflete suas devoções.
Não há pessoa perfeita, bem como não há
casamento perfeito. O matrimônio é um meio – como o é o celibato – para
alcançar o céu. A santidade em qualquer estado de vida exige esforço e
combate – e no matrimônio isto não é diferente. Todavia, como cristãos, nosso
missão é ser exemplo para os outros e mostrar que, exatamente por termos
Cristo, conseguimos superar as dificuldades com amor e leveza.
Pais, não briguem na frente dos filhos; não
falem mal dos esposos para eles ou na frente deles. A preparação para o matrimônio
começa ainda na infância com o exemplo dos pais e quando estes se dispõem
a crescerem em virtudes e assim também formarem seus filhos. Sejam exemplo.
Mostrem que constituir um lar vale a pena, apesar das dificuldades – que
eventualmente vão surgir, mas, sabendo superá-las com amor, será também
possível dar um bom exemplo sobre isso. Não reclamem (tenham um diário, se
isso for necessário, façam terapia, tenham um bom diretor espiritual ou um bom
amigo confidente, mas não reclamem!). Reclamar e mostrar “os problemas” da
maternidade, do cônjuge ou de se ter uma família não ajuda a “mostrar a
realidade”. A realidade todos conhecemos. Precisamos de algo que transforme a
realidade em uma situação melhor e esse algo é como você irá lidar com as
situações.
Coloquem o esposo(a) em primeiro lugar: você
se casou com ele(a), não com seus filhos. Tenham amigos, saibam ser gentis
e acolhedores, saibam conversar sobre assuntos diversos com quem tem e com quem
não tem a nossa fé: são as pessoas mais distantes de nós que precisam conhecer
nosso exemplo. Saibam dividir bem as tarefas dentro lar, não deixando que
somente um dos cônjuges fique sobrecarregado ou só meninas façam determinados
serviços, por exemplo, pois isso também pode gerar brigas e maus exemplos.
Aos poucos, sem holofotes ou manchetes em
jornais, apenas na simplicidade do dia-a-dia, mais corações terão o desejo de
constituir uma família – porque viram bons exemplos ao redor fazer renascer
essa vontade.
Fonte:
https://pt.aleteia.org/2018/05/07/quem-esta-matando-a-familia-e-a-propria-familia/?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt
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