Crer em Deus é a primeira afirmação da nossa
profissão de fé e também a mais fundamental. Todas as outras verdades da fé
partem da existência de Deus e de sua obra de criação, de salvação e de
santificação do homem e do cosmos. Cremos em um único Deus, o qual Jesus o
desvelou como Trindade: Pai e Filho e Espírito Santo. A comunhão com ela é a
meta da fé e da vida cristã.
Jesus
revela a Trindade
O povo de Israel, em sua história, vai descobrindo e afirmando o senhorio do
único Deus, Criador, Salvador e Senhor. Jesus vai confirmar a fé israelita,
quando diz: “O primeiro de todos os mandamentos é este: ‘Ouve, Israel, o Senhor
nosso Deus é o único Senhor; amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de todas as tuas forças.’” (cf. Mc 12,29-30) Todavia, Jesus
vai revelar algo novo: o mistério do Deus Uno e Trino. Ele vai chamar a Deus de
Pai (cf. Mt 11,27;12,50) num sentido novo e profundo, pois está reconhecendo-O
não apenas como Criador de todas as coisas, mas, sobretudo, em relação a sai
mesmo, na sua eterna geração (cf. Jo 1,1;10,30;14,9). Assim, Jesus é o único
Filho de Deus, gerado eternamente antes que o mundo fosse criado e esplendor de
sua glória (cf. Cl 1,5; Hb 1,3).
Jesus, ainda, vai revelar que, após a sua Páscoa, o seu Pai enviará o Espírito
Santo (cf. Jo 14,16), que tem a missão de ensinar e conduzir a Igreja à verdade
(cf. Jo 14,26; 16,15). O homem sozinho não poderia ascender a um conhecimento
tão alto como o do Deus Uno e Trino, se este não o fosse comunicado pelo
próprio Deus (Ef 1,17).
O
Pai e o Filho são consubstanciais
A fé no Deus Uno e Trino apresentou dificuldades e questões desde o início. Um
dos momentos ápices desta tentativa de salvaguardar a fé foi durante o quarto
século. Dentro da Igreja surgiu um grupo que acreditava que, de forma geral,
Jesus era um homem que foi glorificado pelo Pai, elevado e tornado superior aos
outros homens e aos anjos em sua subida aos céus. Este grupo é conhecido como
“arianismo”. De fato, o bispo Ário, influenciado por doutrinas platônicas,
afirmava que Jesus era criatura do Pai. A Igreja, então, se uniu no I Concílio
de Nicéia, em 324, para propor a verdadeira doutrina, afirmando que o “Filho é
consubstancial ao Pai”. Apesar desta afirmação, o arianismo ainda vai perdurar
e a Igreja terá a necessidade de confirmar sua doutrina mais à frente. No
Concílio de Constantinopla, em 381,
a fé vai
ser ratificada na expressão “o Filho único de Deus, gerado pelo Pai antes de
todos os séculos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não
criado, consubstancial ao Pai”. Desta forma, se definia diante de todos a fé na
qual o Pai e o Filho são um só Deus, e que Filho é gerado pelo Pai e não criado.
O
Espírito é Deus como Pai e o Filho
Macedônio, bispo de Constantinopla, influenciado por ideias arianas, negava a
divindade do Espírito Santo. Ele reuniu um grupo de seguidores chamados de
macedonianos (seguidores de Macedônio) ou pneumatômacos (combatentes contra o
Espírito). A Igreja, ainda, no Concílio de Constantinopla, apoiada pela
Teologia dos Padres Capadócios, afirmou a divindade do Espírito com a fórmula:
“Cremos no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que procede do Pai, é adorado
e glorificado, juntamente com o Pai e o Filho, e falou pelos profetas”.
Uma outra questão apareceu em relação ao envio do Espírito: Ele procedia do Pai
ou do Pai e do Filho? Na Igreja oriental, sempre se proclamou que o Filho
exercia uma função de intermediação e que o Espírito procedia do Pai (Fonte da
Trindade) pelo Filho (por sua intercessão). Na Igreja Ocidental, a partir das
igrejas da Espanha, se acreditou que o Espírito procedia do Pai e do Filho.
Esta questão ficou conhecida como Filioque. Hoje já se percebe que as duas
Igrejas colocaram acentos diferentes de perspectiva, pois enquanto a Oriental
olhava a partir da história da salvação (economia), a Ocidental via a partir da
comunhão substancial trinitária.
A
Igreja e a compreensão do Dogma
A Igreja, ajudada pelo Espírito Santo, desde o início, começa a formular sua
fé. Ela quer, como o Senhor lhe vocacionou, anunciar a todos os povos a fé no
Deus Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 28,19). Assim, ela vai propondo as
realidades que Jesus as transmitiu e que o Espírito as ensina e as recorda. A
Igreja definiu as afirmações dogmáticas em meio a conflitos e muitas vezes
corrigindo elementos formulados de maneira equivocada. Para isto ela vai
permitir a introdução de elementos e conceitos novos, tais como: substância,
pessoa, natureza, relação. O dogma da Santíssima Trindade está profundamente
marcado por estes conceitos, vindos da filosofia grega. Podemos formulá-lo como
o apresenta o compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CIC), pergunta 48: ”As
três pessoas divinas são um só Deus porque cada uma delas é idêntica à
plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas
entre si pelas relações que as põem em referência uma com as outras: o Pai gera
o Filho, o Filho é gerado pelo Pai e o Espírito Santo procede do Pai e do
Filho”. Assim, em relação à substância, à essência e à natureza falamos da
unidade na Trindade; e, em relação às pessoas e às relações podemos falar de
distinção na Trindade.
Para
aprofundar...
Para saber mais sobre o assunto, indicamos CIC, do número 232
a 267; no
Compêndio do Catecismo, perguntas 36
a 49; e, no
Youcat, perguntas 35 e 39.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de
Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida
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