terça-feira, 4 de junho de 2013

Sacerdócio batismal dos fiéis

            Segundo a Constituição Dogmática “Lúmen Gentium” do Concílio Vaticano II, no parágrafo 34, quando trata dos fiéis leigos, afirma: “Àquele que une intimamente à sua vida e à missão, dá-lhes também parte no seu múnus sacerdotal com vistas a exercerem um culto espiritual, para a glória de Deus e a salvação dos homens”, e, ainda, “assim, também os leigos, procedendo santamente em toda parte como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo”. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) retoma e reapresenta estas ideias conciliares quando assegura que “pelo batismo os fiéis participam do sacerdócio de Cristo” (nº 1268). Poderíamos, então, nos perguntar que participação no sacerdócio de Cristo é esta do fiel batizado?

O Sacerdócio de Cristo
            Para entendermos tanto o sacerdócio batismal como o ministerial (este último ligado ao Sacramento da Ordem), precisamos em primeiro lugar entender o sacerdócio de Cristo. Na Sagrada Escritura, apenas na carta aos Hebreus, vemos Jesus sendo chamado de sacerdote (cf. Hb 2,17; 3,1; 4,14; 5,10). De fato, Ele não se aproxima da concepção sacerdotal do Antigo Testamento: sua família pertence à tribo de Judá (Lc 1,27; Hb 7,14). Todavia, as narrativas sobre a sua morte na Cruz O apresenta dentro de uma concepção de sacrifício onde Jesus é, ao mesmo tempo, a vítima e o sacerdote (Mc 14,24; Mt 26,28; 1 Cor 5,7). A Carta aos Hebreus vai entender a morte de Jesus como o sacrifício aceito por Deus. Realmente, o sacerdócio de Cristo se realizou num caminho de resposta à vontade de seu Pai, enfrentando as adversidades que se apresentavam. Esta vida oferente de Jesus, que encontra seu ápice na Cruz, é a oferta que Ele fez de si mesmo para a salvação dos homens. Cristo é o sacerdote na medida em que se entrega, no amor, ao Pai pela salvação dos homens (Hb 7,26-27).

A entrada no templo de Deus
            A vida de Cristo se torna o sacrifício perfeito e santo que Ele continua a oferecer ao Pai pelos homens (Hb 8,1-2). De fato, Jesus está vivo e se tornou, no santuário celeste, o único mediador e intercessor dos homens junto ao Pai (Hb 9,11-15). Seu sacerdócio eterno se manifesta em atitudes de misericórdia com aqueles que sofrem e com os pecadores, justificando-os, purificando-os e santificando-os (Hb 10,10.14).

Os fiéis participam do sacerdócio de Cristo
            Com a subida de Cristo para o santuário celeste e a efusão do Espírito Santo sobre a Igreja, aparece o povo sacerdotal (1 Pd 2,4-5.9; Ap 1,6). De fato, cada fiel pode se aproximar do Pai (Ef 2,18; Hb 7,25) e oferecer-se a Ele (Rm 12,1) através da conversão e da aceitação da vontade divina em sua própria vida e da vivência na comunhão com os irmãos (1 Pd 2,5). O cristão se torna sacerdote quando, pelo batismo, entra em comunhão no corpo místico de Cristo e vive a realidade desta consagração batismal: ele se torna capaz de crer, de esperar e de amar a Deus por meio de uma vida teologal; se torna capaz de viver sob a moção do Espírito de Deus, servindo a comunidade cristã e humana a partir dos dons e carismas que recebeu; e é capaz de crescer no seu relacionamento de amor a Deus, a si mesmo e ao próximo (cf. CIC nº 1547). O sacerdócio batismal se manifesta numa vivência de resposta ao Pai possibilitada pelo Espírito na medida em que Cristo viveu e testemunhou. 

Os fiéis e a liturgia
            O Concílio Vaticano II na Constituição Dogmática “Sacrosanctum Concilium” nº 14 deseja ardentemente que “todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação na celebração litúrgica que a própria natureza da liturgia exige e a qual o povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido’, tem direito e obrigação por força do batismo.”. Participar da liturgia é, no seu sentido mais profundo, vivenciar a história da salvação de Deus no mistério pascal de Cristo. Na liturgia, por meio da Palavra de Deus e dos sacramentos, os fiéis são inseridos na comunhão de vida com Jesus, e de lá partem para viver no mundo o testemunho cristão (cf. SC nº 48 e CIC nº 1273).

Os fiéis e as celebrações
            Com a indicação conciliar da vivência sacerdotal do batizado, ocorreu uma abertura da prática celebrativa eclesial em duas pontas. A primeira em relação ao cuidado e ao incentivo da participação dos fiéis através das aclamações, das respostas, da salmodia, das antífonas, dos cânticos, das ações, dos gestos, das atitudes e do silêncio sagrado (cf. SC nº 30). Com isto se ressalta o aspecto dialogal do rito das celebrações litúrgicas, favorecendo com que os batizados entrem em comunhão com Deus. A segunda em relação à participação dos fiéis em certos ministérios na celebração, tais como o de leitor e o de acólito. Contudo, deve-se destacar que o que o Concílio Vaticano II não queria, com a reproposição da teologia, do sacerdócio batismal, confundi-lo com o ministerial, mas recuperar a vocação e a dignidade própria do fiel leigo no ministério de Cristo.

Para aprofundar
            Indicamos a leitura do Catecismo da Igreja Católica (CIC), números 1.141, 1.143, 1.268, 1.273, 1.546 e 1.547; da “Lumen Gentium”, números 10, 11 e 34; e da “Sacrosanctum Concilium”, números 11, 14, 19, 30, 48, 59 e 100.

Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida



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