segunda-feira, 16 de maio de 2016

A alegria do amor

Dom Josef Karl Romer
Bispo auxiliar emérito do Rio de Janeiro


É significativo que o Papa Francisco tenha assinado no dia 19 de março 2016, dia de São José, Patrono da família, este texto pós-sinodal sobre o amor, fundamento, vigor e fonte de alegria na família. O texto é amplo, com 325 parágrafos (números). A breve introdução (nn. 1-7) esboça a intenção e a estrutura do texto. Logo de entrada aparece a força envolvente do tema: “A alegria do amor, vivido nas famílias... é também o júbilo da Igreja” (n 1).
Os dois sínodos dos Bispos (2014 e 2015) revelaram a realidade das famílias, suas crises e suas potencialidades em todos os Continentes. O Papa acolhe os desafios e as alegrias da beleza da família e leva tudo a um aprofundamento e uma exposição sistemática em nove capítulos: Capítulo I: colocar-se sob a luz da Palavra de Deus; cap. II: a realidade dos desafios; cap. III: Jesus recupera o projeto divino da família; cap. IV: o amor no matrimônio; cap. V: o amor fecundo; cap. VI: perspectivas pastorais; cap. VII: família, lugar ideal da educação, e seus desafios; cap. VIII: situações “irregulares” e a lógica da misericórdia; cap. IX: espiritualidade conjugal e familiar.
Já na introdução (n. 7), o Papa insinua que os esposos leiam com maior interesse e proveito os dois capítulos principais: o IV e o V. Os agentes de pastoral, porém, aproveitarão singularmente da leitura do capítulo VI. Todos, certamente, se enriquecerão com o capítulo VIII. 
Devido à variada riqueza do texto e sua “inevitável extensão”, o Papa aconselha que não se faça “uma leitura geral apressada”. Será melhor “aprofundar pacientemente uma parte de cada vez” (n. 7).
O capítulo IV, que é, juntamente com o cap. V, parte principal do documento, oferece-nos um texto singularmente prático e claro. É, no entanto, indispensável perceber que o amor – aqui tratado como essencial e fundamental para a família é um tema radicalmente geral, que ilumina e forma todas as formas autênticas de convivência humana. Toda convivência na Igreja, na pastoral, na comunidade religiosa, na amizade está em seu íntimo caracterizada por aquilo que o Papa fala sobre o amor dentro da família. Para descrever a inesgotável riqueza do amor, o Papa segue o “hino à caridade” que São Paulo descreve em 1Cor 13,4-7:
“O amor é paciente, é benfazejo, não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho, nada faz de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, nem leva em conta o mal sofrido, não se alegra  com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo”. 
O amor é paciente: o sentido se encontra já no Antigo Testamento. Deus é paciente, porque “é lento para a ira” (Nm 14,18; cf. Ex 34,6; Sab 11,23; 12,2.15-18’). “A paciência é uma qualidade do Deus da Aliança, que quer “dar tempo para o arrependimento” e que “convida a imitá-Lo também na vida familiar”. “A paciência de Deus é exercício de misericórdia” (n.91).
Todavia, a paciência “não deixa que permanentemente nos maltratem, nem tolera agressões físicas, nem permite que nos tratem como objetos”. Errada é uma visão idílica, supondo que as pessoas sejam perfeitas. 
O autêntico amor “possui sempre um sentido de profunda compaixão, que faz aceitar o outro como parte deste mundo, mesmo quando age de modo diferente daquilo que eu desejaria” (92).
Os números 93 e 94 mostram que a paciência “não é uma postura totalmente passiva, mas há de ser acompanhada por uma atividade, uma reação dinâmica e criativa perante os outros”. Por isso, o hino de S. Paulo coloca após a paciência a “atitude benfazeja do serviço”. Assim, em At 20,35, São Paulo atribui a Jesus a frase: “É maior felicidade dar que receber”. E Santo Inácio de Loyola ensina: “O amor deve ser colocado mais nas obras do que nas palavras”. 
O Papa elabora sabiamente todas as qualidades que Paulo atribui ao amor. E mostra ainda outros aspectos.
A cuidadosa leitura de todo o capítulo IV, nn. 89-164, é um eminente exercício de penetrar no pensamento do Papa. Depois se abrem perspectivas para todo o documento.
O Papa Francisco termina seu texto com a oração à Sagrada Família:

Jesus, Maria e José,
em Vós contemplamos
o esplendor do verdadeiro amor,
confiantes, a Vós nos consagramos.
Sagrada Família de Nazaré,
tornai também as nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
autênticas escolas do Evangelho
e pequenas igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
que nunca mais haja nas famílias
episódios de violência, de fechamento e divisão;
e quem tiver sido ferido ou escandalizado
seja rapidamente consolado e curado.
Sagrada Família de Nazaré,
fazei que todos nos tornemos conscientes
do caráter sagrado e inviolável da família,
da sua beleza no projeto de Deus.
Jesus, Maria e José,
ouvi-nos e acolhei a nossa súplica.
Amém!

Fonte: Jornal Testemunho de Fé, página 18

Nenhum comentário:

Postar um comentário