quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Nota do Regional Leste 1 da CNBB sobre a riqueza da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia

A família é um dom precioso, porque, esforçando-se sinceramente por crescer no amor recíproco, contribui para renovar o próprio tecido de todo corpo eclesial e social. (cf. AL 207).

Nós, bispos, padres, diáconos e leigos, do Regional Leste 1 da CNBB, reunidos na 15ª Assembleia Geral, interpelados pelo Ano Santo da Misericórdia, dirigimo-nos aos irmãos na Fé e a toda a sociedade fluminense, no desejo de trazer a riqueza da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia (Alegria do Amor), do Papa Francisco. Desejamos que esta Exortação seja acolhida e objeto de constante reflexão para as ações em favor das famílias.
Reconhecemos que a realidade das famílias em nosso Regional é complexa e de difícil síntese. Mesmo assim, desejamos manifestar alguns pontos que nos causam maior preocupação. Reconhecemos que o mundo de hoje passa por agudas transformações, que afetam a vida de todas as pessoas, atingindo muito diretamente a realidade da família, que sofre com o forte processo de individualização da vida, chegando mesmo ao extremo do individualismo. Sentimos a influência da tecnologia sobre a vida das pessoas, alterando comportamentos e valores. Preocupamo-nos com o consumismo, que, ultrapassando o nível da relação com os objetos, atinge a relação com as pessoas, levando à mentalidade do descartável. Preocupamo-nos também com a crescente violência nas suas mais diversas formas. Esta violência se manifesta vinculada a diversos fenômenos agudos, dentre os quais destacamos a drogadição, o alcoolismo, a pedofilia e os processos educacionais mais voltados para as lógicas do mercado do que para a transmissão de valores. Aumenta o empobrecimento da população em geral, levando as famílias a experimentarem o desemprego, a perda do lar, a fome e, em consequência, o esfacelamento. Constatamos que a maioria das políticas de Estado não olham para a família em seu conjunto, privilegiando mais o indivíduo e buscando afastar, em nome da laicidade, a relação entre a fé e a vida familiar. Não podemos deixar de nos preocupar com as inúmeras formas de desvalorização da vida, alimentadas por forte pressão da mídia, em especial no que diz respeito à ideologia de gênero e à legalização do aborto e da eutanásia. Angustiamo-nos por ver que a afetividade e a sexualidade vêm se tornando cada vez mais desenfreadas e desconectadas da vida matrimonial. Sabemos, por fim, que estes e outros aspectos do mundo atual são conhecidos de todos. Voltamo-nos a eles por acreditarmos ser impossível calar a voz enquanto eles não forem superados.


Ao mesmo tempo, alegramo-nos com o caminhar de nossa Igreja no Regional Leste 1, concretizado em diversos aspectos, dentre os quais destacamos o forte empenho na formação das pessoas à luz do Evangelho e dos ensinamentos do Magistério da Igreja. São encontros, cursos e outros momentos com as famílias e em favor das famílias. Alegramo-nos por ver a crescente superação do isolamento pastoral, com o surgimento de parcerias, setores mais abrangentes e outras formas criativas para a união das forças. Alegramo-nos com o crescimento da perspectiva missionária, com inúmeras experiências de visita às famílias, especialmente as que se encontram em situações de maior necessidade. Constatamos que a realidade das chamadas novas uniões vem sendo gradativa e cuidadosamente acolhida nas nossas comunidades e que a preparação dos novos padres tem incluído estágios junto à Pastoral Familiar.
Ao reconhecermos e mencionarmos estes sinais de alegria, queremos manifestar nosso compromisso por continuar caminhando na esperança rumo a uma Igreja que, sendo comunidade de comunidades, serviços e ministérios, é casa da iniciação à vida cristã, sempre alimentada e fortalecida pela Palavra de Deus, e cada vez mais a serviço da vida em todas as instâncias, inclusive na vida da família como realidade querida por Deus. E este compromisso nós desejamos realizar em estado permanente de missão.
Por isso, olhando para a frente e unidos em torno da missão evangelizadora, convidamos todas as comunidades de nosso Regional a assumir os seguintes compromissos:
1) Implantar e valorizar a Pastoral Familiar, articulando-a com as demais pastorais, movimentos e serviços.
2) Capacitar agentes para atender às famílias em casos especiais e/ou em crises, integrando-as na comunidade.
3) Formar permanentemente o clero, seminaristas, agentes pastorais, movimentos e serviços sobre o Magistério da Igreja a respeito da família, incluindo o estágio dos seminaristas junto à Pastoral Familiar.
4) Melhorar a preparação para o matrimônio nas três etapas, sendo personalizada, com maior duração e unidade diocesana; incluindo o direito matrimonial e a liturgia sacramental do matrimônio.
5) Fortalecer a espiritualidade conjugal e familiar, favorecendo o surgimento de vocações no seio das famílias.
6) Motivar a participação cidadã das famílias, incluindo o cuidado com a Casa Comum (cf. AL 277)
7) Intensificar o serviço à vida plena, desde a concepção até o seu fim natural.
8) Fomentar grupos de estudos católicos sobre a regulação da fertilidade humana e promoção da vida.
9) Ajudar as famílias a viver a dinâmica de uma Igreja em estado permanente de missão.
10) Voltar, sobretudo, o olhar para crianças em instituições, com incentivo à adoção (cf AL 179-180).
11) Articular escola e família, em favor de uma educação integral, que valorize o ensino religioso, formando as consciências para o uso dos meios de comunicação e novas mídias.
Por fim, sendo Igreja no Estado do Rio de Janeiro, não podemos deixar de elevar ao Deus da Vida, do Amor, da Justiça e Paz uma oração por esta parcela do Brasil que temos como lar. Preocupados com o atual cenário vivenciado em nosso Estado, unimo-nos a todas as famílias, solidarizando-nos especialmente com as que mais estão sofrendo. Pedimos ao Bom Deus coragem para enfrentar, à luz do Evangelho, as dificuldades do dia a dia. Sabemos que, principalmente nas horas de desespero, tendemos a buscar soluções rápidas e às vezes violentas. O recurso, porém, à violência nunca é solução. As efetivas soluções brotam da solidariedade, do diálogo e do sacrifício. Se grandes são os problemas, maiores devem ser nossa capacidade de incansavelmente dialogar, a força de nossa solidariedade e o cuidado para que os mais pobres não venham a ser ainda mais onerados com uma dose desproporcional de sacrifício.
Queremos, portanto, ser uma Igreja sempre mais presente na vida de todo o povo fluminense, intensificando nossa atitude de serviço e solidariedade. Pedimos que cada comunidade, de acordo com a realidade local, seja amplamente criativa para expandir as atividades já existentes a fim de socorrer pessoas e famílias vitimadas pelas consequências do atual momento. O Ano Santo da Misericórdia já se encerrou, mas a misericórdia precisa estar cada vez mais presente no nosso cotidiano.
Celebrando com todo o Brasil o Ano Mariano, suplicamos à Mãe de Jesus, Nossa Senhora da Conceição Aparecida e Rainha das Famílias, que interceda por nós e nos ajude a seguir seu exemplo, enfrentando e superando com fé e esperança os momentos difíceis da vida.
Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida. (AL 325)

Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2016

Orani João Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Presidente do Regional Leste 1 da CNBB

Dom Luciano Bergamin, CRL
Bispo de Nova Iguaçu
Vice-Presidente do Regional Leste 1 da CNBB

Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo de Niterói
Secretário do Regional Leste 1 da CNBB


Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/5127/nota-do-regional-leste-1-da-cnbb-sobre-a-riqueza-da-exortacao-apostolica-pos-sinodal-amoris-laetitia

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