quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

D. Orani exorta Agentes da Pastoral do Batismo

Por D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

O Papa Francisco, na festa do Batismo do Senhor deste ano, batizou 32 crianças. No momento do Ângelus desse dia ele recordou a festa e comentou: “Não vos parece que, neste nosso tempo, há necessidade de um suplemento de partilha fraternal e amorosa? Não vos parece que todos nós precisamos de um suplemento de caridade? Não daquela que se contenta com a ajuda extemporânea, que não compromete, que não põe em jogo, mas daquela caridade que compartilha, que assume as dificuldades e o sofrimento do irmão. Que sabor adquire a vida quando nos deixamos inundar pelo amor de Deus!” Agora que concluímos a abertura do Ano da Caridade com a Festa de São Sebastião, somos chamados a refletir e assumir com entusiasmo o nosso Batismo, sua preparação e suas consequências.
Vimos na exortação do Santo Padre uma ordem para que os cristãos que um dia foram batizados exerçam a caridade. É exatamente o que vivemos neste ano em nossa Arquidiocese. Porém, vemos muitas pessoas que passaram pelas águas do batismo, mas poucas que assumem sua identidade cristã. É necessário incrementar ainda mais a nossa preparação para a vida cristã, que se inicia com o sacramento do Batismo.
Pelo Batismo, os homens tomam parte na morte e ressurreição de Cristo: "Assim também vós considerai-vos mortos ao pecado, porém, vivos para Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 6,11). "O batismo recorda e realiza o mistério pascal, uma vez que por ele os homens passam da morte do pecado para a vida". (Rito para o Batismo de Crianças, A Iniciação Cristã, nº 6). É por isso que, ao sermos batizados, renunciamos ao pecado e a todo mal e fazemos nossa profissão de fé, dizendo firmemente que Deus nos salva do pecado e da morte por seu Filho Jesus.
Um dos deveres dos pais e padrinhos na preparação do sacramento do Batismo é a sua correta preparação para a recepção do sacramento pelos seus filhos e afilhados.

O documento publicado pela CNBB aos 14/02/1980, com os subsídios teológico-litúrgico-pastorais acerca do Batismo de crianças, recorda no nº 11: “Voltando nossa atenção para a própria celebração do batismo, recordamos o quadro já decidido na "Pastoral do Batismo" (nº 3). "São estas as falhas que ocorrem com maior frequência:
1. Preparação insuficiente, quando não inexistente, de pais e padrinhos, antes teórica que vivencial, por vezes mais burocrática que pastoral, sem o auxílio de uma equipe formada para esse trabalho, sem distinção entre cristãos afastados da Igreja e cristãos integrados na vida comunitária.
2. Celebração apressada ou rotineira, sem animação e entusiasmo, sem explicação do sentido dos ritos, sem distribuição de funções dentro de uma equipe de celebração, sem variação ou adaptação aos diferentes grupos; mera execução mecânica de cerimônias; leitura inexpressiva de textos.
3. Passividade dos presentes, muitas vezes desprovidos de participação e vivência.
4. Visão do batismo como assunto individual, sem implicações para com a Igreja e cada comunidade eclesial.
5. Redução do batismo a um fato social, que responde a uma tradição familiar e cultural ou a uma obrigação religiosa, desconhecendo sua natureza de celebração de um mistério, de um acontecimento religioso fundamental, isto é, a inserção em Cristo, a incorporação à Igreja, a purificação do pecado, a filiação divina etc.
6. A fragilidade ou mesmo ausência de compromisso com a educação da fé e o desenvolvimento da vida cristã e eclesial da criança, por parte dos pais, padrinhos e da comunidade.
7. A importância desproporcional atribuída aos padrinhos, em prejuízo dos pais, que são os que decidem o batismo dos filhos e se responsabilizam pelo desenvolvimento da vida cristã iniciada no batismo.
8. A escolha de padrinhos sem levar em conta a sua situação em relação à Igreja e à sua vida cristã.
9. Concepções mágicas e supersticiosas acerca do batismo, presentes tanto na solicitação do batismo como em sua celebração.
10. A evasão de cristãos menos conscientizados para outras paróquias ou dioceses onde não se fazem exigências de preparação para o batismo.
11. Exigências demasiado rígidas com o perigo de transformar a Igreja em grupo fechado (gueto) numa atitude injusta para com pessoas não suficientemente esclarecidas".
Passadas mais de três décadas parecem atuais muitas falhas que são apontadas, e que, infelizmente, continuam em muitos lugares acontecendo.
A primeira preparação para o batismo deve ser a preparação remota. Existe a necessidade de fazer da recepção, às vezes mecânica e passiva, dos sacramentos, uma autêntica celebração da fé; a formação de verdadeiros centros de comunhão e participação nas "igrejas domésticas", comunidades eclesiais e grupos de reflexão, coordenadas e animadas a nível paroquial e diocesano; uma participação mais qualificada e diversificada dos leigos na Igreja e no mundo. Devemos empregar todos os meios aptos ao alcance para a educação dos fiéis para a vivência eclesial-comunitária, cuja origem e fundamento encontram-se no sacramento do batismo, de tal forma que a Igreja possa ser, cada vez mais e melhor, sinal e instrumento de comunhão, de participação e de libertação integral.
Na preparação próxima para o batismo, é função dos pais e padrinhos assumir a educação cristã da criança batizada. Durante a preparação, devem tomar consciência clara desta responsabilidade. É, pois, com os pais que se deve ter especial atenção durante a preparação para o batismo. Lembramos da importância de uma equipe de agentes de pastoral, quando bem formada, será de inestimável proveito na preparação do batismo. Esta equipe representa a comunidade no empenho de levar novos membros à fonte batismal: valoriza o leigo na Igreja; reparte as responsabilidades com o sacerdote; chegando até a família do batizando. O conteúdo da preparação, dentro do amplo tema do batismo, inclui o compromisso do cristão com a Igreja e com o próximo, numa autêntica vida comunitária.
A preparação próxima consta de reuniões ou encontros de preparação, nos quais consta a reflexão, diálogo, oração e alguma celebração. Muito recomendáveis são as visitas às famílias dos batizandos, com o fim de integrá-las melhor à comunidade eclesial por laços de verdadeira amizade e de fé.
"Os encontros de preparação têm por objetivo conscientizar os pais e padrinhos acerca dos compromissos que estão assumindo perante Deus e a Igreja, principalmente no que diz respeito a educar o batizando na fé católica. Tais encontros devem ser momento importante de evangelização, tendo por meta anunciar Jesus Cristo, proporcionar o encontro pessoal dos pais e padrinhos com Ele, na comunidade e ajudá-los a segui-lo". (cf. Projeto Nacional de Evangelização (2004-2007), CNBB, no. 3.3).
O nosso Diretório Arquidiocesano da Iniciação Cristã, ao falar dos encontros de preparação de pais e padrinhos diz que: "A preparação deve ser feita sempre em uma comunidade paroquial, em dois encontros de, no mínimo, duas horas cada, realizados em ambiente agradável e com dinâmicas que tirem o caráter de mera exposição oral, incluindo breves momentos de oração e participação ativa dos assistentes, com perguntas ou partilha de suas impressões" (cf. n. 215). Lembramos que as comunidades devem preparar ambientes e agentes especializados para cuidar das crianças que porventura precisam vir acompanhadas de seus pais.
Este momento preparatório deve ser momento de graça! Os fiéis devem sentir-se atraídos para este momento, como partilha e crescimento da fé.
Peço a Deus que nossos párocos e agentes da pastoral do batismo dinamizem em suas comunidades este momento, como encontro de batizados, momento de partilha da fé e de reavivamento da fé dos pais e padrinhos para tornar o seu filho e a sua filha autênticos discípulos-missionários do Redentor! Dessa forma, com pais e padrinhos bem preparados e motivados, poderemos contar no futuro com cristãos que realmente ajudem a transformar o mundo pelo amor, pela caridade.

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