Por D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro
O Papa Francisco, na festa do Batismo do
Senhor deste ano, batizou 32 crianças. No momento do Ângelus desse dia ele
recordou a festa e comentou: “Não vos parece que, neste nosso tempo, há
necessidade de um suplemento de partilha fraternal e amorosa? Não vos parece
que todos nós precisamos de um suplemento de caridade? Não daquela que se
contenta com a ajuda extemporânea, que não compromete, que não põe em jogo, mas
daquela caridade que compartilha, que assume as dificuldades e o sofrimento do
irmão. Que sabor adquire a vida quando nos deixamos inundar pelo amor de Deus!”
Agora que concluímos a abertura do Ano da Caridade com a Festa de São
Sebastião, somos chamados a refletir e assumir com entusiasmo o nosso Batismo,
sua preparação e suas consequências.
Vimos na exortação do Santo Padre uma ordem
para que os cristãos que um dia foram batizados exerçam a caridade. É
exatamente o que vivemos neste ano em nossa Arquidiocese. Porém, vemos muitas
pessoas que passaram pelas águas do batismo, mas poucas que assumem sua
identidade cristã. É necessário incrementar ainda mais a nossa preparação para
a vida cristã, que se inicia com o sacramento do Batismo.
Pelo Batismo, os homens tomam parte na morte
e ressurreição de Cristo: "Assim também vós considerai-vos mortos ao
pecado, porém, vivos para Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 6,11).
"O batismo recorda e realiza o mistério pascal, uma vez que por ele os
homens passam da morte do pecado para a vida". (Rito para o Batismo de
Crianças, A Iniciação Cristã, nº 6). É por isso que, ao sermos batizados,
renunciamos ao pecado e a todo mal e fazemos nossa profissão de fé, dizendo
firmemente que Deus nos salva do pecado e da morte por seu Filho Jesus.
Um dos deveres dos pais e padrinhos na
preparação do sacramento do Batismo é a sua correta preparação para a recepção
do sacramento pelos seus filhos e afilhados.
O documento publicado pela CNBB aos
14/02/1980, com os subsídios teológico-litúrgico-pastorais acerca do Batismo de
crianças, recorda no nº 11: “Voltando nossa atenção para a própria celebração
do batismo, recordamos o quadro já decidido na "Pastoral do Batismo"
(nº 3). "São estas as falhas que ocorrem com maior frequência:
1.
Preparação insuficiente, quando não inexistente, de pais e padrinhos, antes
teórica que vivencial, por vezes mais burocrática que pastoral, sem o auxílio
de uma equipe formada para esse trabalho, sem distinção entre cristãos
afastados da Igreja e cristãos integrados na vida comunitária.
2.
Celebração apressada ou rotineira, sem animação e entusiasmo, sem explicação do
sentido dos ritos, sem distribuição de funções dentro de uma equipe de
celebração, sem variação ou adaptação aos diferentes grupos; mera execução
mecânica de cerimônias; leitura inexpressiva de textos.
3.
Passividade dos presentes, muitas vezes desprovidos de participação e vivência.
4.
Visão do batismo como assunto individual, sem implicações para com a Igreja e
cada comunidade eclesial.
5.
Redução do batismo a um fato social, que responde a uma tradição familiar e
cultural ou a uma obrigação religiosa, desconhecendo sua natureza de celebração
de um mistério, de um acontecimento religioso fundamental, isto é, a inserção
em Cristo, a incorporação à Igreja, a purificação do pecado, a filiação divina
etc.
6. A
fragilidade ou mesmo ausência de compromisso com a educação da fé e o
desenvolvimento da vida cristã e eclesial da criança, por parte dos pais,
padrinhos e da comunidade.
7. A
importância desproporcional atribuída aos padrinhos, em prejuízo dos pais, que
são os que decidem o batismo dos filhos e se responsabilizam pelo
desenvolvimento da vida cristã iniciada no batismo.
8. A
escolha de padrinhos sem levar em conta a sua situação em relação à Igreja e à
sua vida cristã.
9.
Concepções mágicas e supersticiosas acerca do batismo, presentes tanto na
solicitação do batismo como em sua celebração.
10. A
evasão de cristãos menos conscientizados para outras paróquias ou dioceses onde
não se fazem exigências de preparação para o batismo.
11.
Exigências demasiado rígidas com o perigo de transformar a Igreja em grupo
fechado (gueto) numa atitude injusta para com pessoas não suficientemente
esclarecidas".
Passadas mais de três décadas parecem atuais
muitas falhas que são apontadas, e que, infelizmente, continuam em muitos
lugares acontecendo.
A primeira preparação para o batismo deve ser
a preparação remota. Existe a necessidade de fazer da recepção, às vezes
mecânica e passiva, dos sacramentos, uma autêntica celebração da fé; a formação
de verdadeiros centros de comunhão e participação nas "igrejas
domésticas", comunidades eclesiais e grupos de reflexão, coordenadas e
animadas a nível paroquial e diocesano; uma participação mais qualificada e
diversificada dos leigos na Igreja e no mundo. Devemos empregar todos os meios
aptos ao alcance para a educação dos fiéis para a vivência
eclesial-comunitária, cuja origem e fundamento encontram-se no sacramento do
batismo, de tal forma que a Igreja possa ser, cada vez mais e melhor, sinal e
instrumento de comunhão, de participação e de libertação integral.
Na preparação próxima para o batismo, é
função dos pais e padrinhos assumir a educação cristã da criança batizada.
Durante a preparação, devem tomar consciência clara desta responsabilidade. É,
pois, com os pais que se deve ter especial atenção durante a preparação para o
batismo. Lembramos da importância de uma equipe de agentes de pastoral, quando
bem formada, será de inestimável proveito na preparação do batismo. Esta equipe
representa a comunidade no empenho de levar novos membros à fonte batismal:
valoriza o leigo na Igreja; reparte as responsabilidades com o sacerdote;
chegando até a família do batizando. O conteúdo da preparação, dentro do amplo
tema do batismo, inclui o compromisso do cristão com a Igreja e com o próximo,
numa autêntica vida comunitária.
A preparação próxima consta de reuniões ou
encontros de preparação, nos quais consta a reflexão, diálogo, oração e alguma
celebração. Muito recomendáveis são as visitas às famílias dos batizandos, com
o fim de integrá-las melhor à comunidade eclesial por laços de verdadeira
amizade e de fé.
"Os encontros de preparação têm por
objetivo conscientizar os pais e padrinhos acerca dos compromissos que estão
assumindo perante Deus e a Igreja, principalmente no que diz respeito a educar
o batizando na fé católica. Tais encontros devem ser momento importante de
evangelização, tendo por meta anunciar Jesus Cristo, proporcionar o encontro
pessoal dos pais e padrinhos com Ele, na comunidade e ajudá-los a segui-lo".
(cf. Projeto Nacional de Evangelização (2004-2007), CNBB, no. 3.3).
O nosso Diretório Arquidiocesano da Iniciação
Cristã, ao falar dos encontros de preparação de pais e padrinhos diz que:
"A preparação deve ser feita sempre em uma comunidade paroquial, em dois
encontros de, no mínimo, duas horas cada, realizados em ambiente agradável e
com dinâmicas que tirem o caráter de mera exposição oral, incluindo breves
momentos de oração e participação ativa dos assistentes, com perguntas ou
partilha de suas impressões" (cf. n. 215). Lembramos que as comunidades
devem preparar ambientes e agentes especializados para cuidar das crianças que
porventura precisam vir acompanhadas de seus pais.
Este momento preparatório deve ser momento de
graça! Os fiéis devem sentir-se atraídos para este momento, como partilha e
crescimento da fé.
Peço a Deus que nossos párocos e agentes da
pastoral do batismo dinamizem em suas comunidades este momento, como encontro
de batizados, momento de partilha da fé e de reavivamento da fé dos pais e
padrinhos para tornar o seu filho e a sua filha autênticos
discípulos-missionários do Redentor! Dessa forma, com pais e padrinhos bem
preparados e motivados, poderemos contar no futuro com cristãos que realmente
ajudem a transformar o mundo pelo amor, pela caridade.
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