As relíquias dos Servos de Deus Zélia e
Jerônimo estão expostas para veneração pública na Paróquia Nossa Senhora da
Conceição, na Gávea, desde o dia 20 de janeiro, Festa de São Sebastião. As
urnas com as relíquias foram lacradas e apresentadas para os fiéis na missa do
padroeiro, presidida pelo arcebispo do Rio, cardeal eleito Dom Orani João
Tempesta, na Paróquia São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca.
A Sagrada Eucaristia foi concelebrada pelo
bispo da Diocese de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso. Na homilia, o
arcebispo destacou que o casal fluminense buscou a santidade, vivendo a
fraternidade e o amor ao próximo.
“Eles também viveram em tempos difíceis,
entre a transição do Império para a República, com forças contrárias à religião
e à fé. Com problemas sociais tremendos, como a escravidão e a instabilidade da
situação política. Mas aqueles que buscam viver o Evangelho, sabem responder de
forma cristã a qualquer situação e dificuldade”, ressaltou Dom Orani.
A etapa jurídica da abertura do processo de
beatificação com o Tribunal Eclesiástico aconteceu na noite do dia 18 de
janeiro durante a Trezena de São Sebastião, na Paróquia Nossa Senhora de
Copacabana, em Copacabana.
No processo canônico será feita a
investigação das virtudes heroicas do casal. Após a conclusão da fase
arquidiocesana, o processo será enviado para a Congregação para a Causa dos
Santos, em Roma, que poderá reconhecer as virtudes e os milagres e tornar
possível a beatificação e, posteriormente, a canonização.
Um casal de virtudes
heroicas
Jerônimo de Castro Abreu Magalhães
(1851-1909) nasceu em Magé, na Baixada Fluminense, e Zélia Pedreira Abreu
Magalhães (1857-1919) em Niterói. Casaram-se em 27 de julho de 1876, na Chácara
da Cachoeira, na Tijuca. Ele era engenheiro civil, e ela tinha formação
artística, literária e científica. Após morar em Petrópolis, o casal fixou sua
residência na Fazenda Santa Sé, perto do município de Carmo, no então Estado do
Rio, onde formaram um autêntico lar cristão.
O casal gerou 13 filhos, morreram quatro e os
outros nove se consagraram a Deus: três sacerdotes e seis religiosas. Eles eram
pessoas de muitas posses e tratavam seus empregados como pessoas amigas. Após a
Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888, os antigos escravos, que sempre
receberam salário, continuaram na fazenda, porque já eram tratados como pessoas
livres.
Na fazenda havia uma capela, onde inúmeras
vezes ao dia o casal era visto rezando, assim como também seus escravos, que
iniciavam o trabalho do dia sempre com orações, conduzidas por Zélia e Jerônimo
no pátio da fazenda. O casal, que catequisava adultos e crianças, construiu uma
enfermaria para cuidar dos escravos enfermos.
Após a morte de seu marido e de seu pai,
Zélia distribuiu todos os seus bens e consagrou-se na Congregação das Servas do
Santíssimo Sacramento.
“Descobrimos o quanto os
dois eram maravilhosos”
Em 1937, houve a tentativa de um processo de
beatificação de Zélia quando aconteceu a exumação dos ossos dela, mas o
processo não foi adiante.
“Na época, a transladação do Cemitério São
João Batista, em Botafogo, até a Paróquia Nossa Senhora de Copacabana não pôde
ser feita de forma discreta, porque desde a sua morte já havia fama de
santidade, e quando o povo de Deus ficou sabendo a multidão saiu às ruas”,
recordou o vigário episcopal para a Vida Consagrada e responsável pelos
processos de candidatos à causa dos santos da Arquidiocese do Rio, Dom Roberto
Lopes, OSB.
O monge beneditino disse que foi por meio da
sobrinha neta de Zélia, Cecília Duprat, que a causa voltou a ser analisada pela
Arquidiocese do Rio, há cerca de três anos. Nessa época, a equipe da
Congregação para as Causas dos Santos percebeu que Jerônimo deveria ser
incluído, porque as virtudes heroicas aconteceram na vida familiar, no
relacionamento que eles tiveram e pela maneira como juntos educaram os filhos e
atuavam na igreja.
Segundo o presidente da Associação Cultural
Católica Zélia e Jerônimo, padre João Geraldo Bellocchio, que é pároco da
igreja onde estão as relíquias, foram os postuladores da Causa dos Santos que
ressaltaram a necessidade de investigar a santidade de Jerônimo.
“Eles disseram: ‘Essa mulher não foi santa
sozinha, o marido também é santo’. De fato, quando fomos atrás da vida e
histórico do Jerônimo, constatamos que também havia manifestações de fiéis, com
testemunhos de graças alcançadas pela intercessão dele”, disse o pároco.
A associação foi criada há dois anos, a
partir do incentivo da sobrinha neta de Zélia. Cecília Duprat é paroquiana da
Igreja Nossa Senhora da Conceição, na Gávea. “Quando fomos verificar e fazer
uma pesquisa descobrimos o quanto os dois eram maravilhosos. Quando os filhos
já estavam todos encaminhados, ele pensava em ser franciscano e ela religiosa.
Eles já estavam entrando em acordo, só que ele morreu antes, mas conseguiu se tornar
terceiro franciscano”, informou Dom Roberto.
A exumação dos restos mortais do Jerônimo foi
feita neste mês na cidade do Carmo, Diocese de Nova Friburgo.
Grandes valores
“As virtudes heroicas de Zélia são de mãe de
família e esposa. Ela era apaixonada pelo marido, que ela chamava ‘o meu
Magalhães’. Era também muito linda a maneira como ela se relacionava com os
filhos. Zélia era realmente uma pessoa impressionante, uma mulher santa”,
destacou Dom Roberto.
Apesar de todo o poder aquisitivo, eles se
voltavam totalmente para os pobres. Nas missões que realizavam, envolviam todos
os filhos e ajudavam muitas congregações religiosas.
“Foi Jerônimo, como engenheiro, quem projetou
a belíssima igreja Matriz no Carmo e outras igrejas na região, e colaborou no
Colégio Anchieta, de Nova Friburgo. Ele tinha uma alma profundamente jesuítica,
era guiado por um diretor espiritual da Companhia de Jesus, mas seu coração era
franciscano. Podemos ver que era uma família de grandes valores pela maneira
como formaram os filhos”, disse Dom Roberto.
O vigário episcopal destacou um trecho
escrito por Zélia no dia da ordenação de seu filho: “Este padre era meu, foi eu
quem o formei. Sua alma desabrochou no calor da minha. Agora ele não é mais
meu, ó meu Deus, mas só Vosso”.
Padre Bellochio afirmou que Jerônimo relatou,
por meio de cartas, que a dor de ver um filho partir era consolada pela alegria
de saber que estava dando aquele filho para Deus, para a Igreja.
“O que me chamou mais atenção na vida desse
casal foi a entrega total de todos os filhos ao serviço do Reino de Deus, além
da prática da caridade, do amor e da assistência religiosa que eles davam”,
disse.
Conclusão do processo em
outubro
Segundo Dom Roberto, é oportuna a abertura do
processo no início do ano, em paralelo à preparação do Sínodo dos Bispos, que
acontecerá de 5 a 19 de outubro deste ano, no Vaticano, e será dedicado ao tema
das famílias.
“A documentação já está muito adiantada, porque
está sendo feita há quase três anos. Agora só falta entrevistar algumas pessoas
para a formatação de todo o processo. Acredito que até o final do ano poderemos
concluir também a primeira fase diocesana do processo canônico do casal. Seria
muito belo, e isso é um grande desafio para toda a equipe, a gente conseguir
encerrar o processo ao término do sínodo sobre a família, em outubro, porque
esse casal tem muito a dizer para o Brasil e para o mundo”, disse o monge.
Padre Bellochio destacou que a abertura do
processo de beatificação de Zélia e Jerônimo é uma luz, algo extraordinário,
que ressalta o valor da família, diante de tantos contrastes vivenciados na
cidade do Rio. “Deus fala para todas as famílias por intermédio desse casal. É
muito significativo”, disse o sacerdote.
“O Brasil precisa de santos”
Ressaltando outros candidatos à santidade no
Rio, Dom Roberto recordou que em 1980 já houve a abertura do processo canônico
da madre Maria José de Capistrano de Abreu, que está no Convento de Santa
Teresa, em Santa Teresa. E no ano passado, também no dia 20 de janeiro, da
Odetinha.
“Para a Igreja no Rio de Janeiro é algo
maravilhoso. João Paulo II nos incentivou tanto dizendo que ‘o Brasil precisava
de santos’. E graças a Deus o Rio de Janeiro já tem esses Servos de Deus”,
festejou ele.
Novenário perpétuo
Depois que a arquidiocese recebeu o Nihil
Obstant (“Nada Impede”) do casal, foi feita a entronização dos quadros deles,
no dia 25 de março de 2012, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Gávea.
“Isso fez aumentar ainda mais a devoção dos
fiéis, porque o povo carioca é muito piedoso”, disse Dom Roberto.
Na paróquia acontece um novenário perpétuo,
às quartas-feiras, nas missas das 18h. Segundo padre Bellochio, muitos fiéis já
relataram inúmeras graças alcançadas pela intercessão do casal de Servos de
Deus.
“Uma de nossas crismandas pedia para seu
companheiro, com quem convivia há mais de 20 anos, para realizar o Sacramento
do Matrimônio, mas ele se negava sempre, dizendo que nunca casaria na Igreja.
Quando ouviu falar do casal Zélia e Jerônimo, ela começou a fazer a novena, sem
falar nada em casa. Ela ficou surpresa quando ouviu seu marido dizer: ‘quando é
que nós vamos nos casar na Igreja?’ Foi um fato extraordinário porque ela tinha
parado de insistir com ele, apenas rezava e pedia a graça”, contou.
A veneração das relíquias do casal Zélia e
Jerônimo pode ser feita das 8h às 19h. O endereço da paróquia é Rua Marquês de
São Vicente, 19. Informações: 3268-8021/3268-8022.
As graças alcançadas pela intercessão dos
Servos de Deus Zélia e Jerônimo podem ser comunicadas pelo email:
beatificacao@arquidiocese.org.br ou pelos telefones: 2292-3132 – ramais:
368/307.
Fonte: arqrio.org
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