terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Felizes os que vivem o Evangelho

As relíquias dos Servos de Deus Zélia e Jerônimo estão expostas para veneração pública na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Gávea, desde o dia 20 de janeiro, Festa de São Sebastião. As urnas com as relíquias foram lacradas e apresentadas para os fiéis na missa do padroeiro, presidida pelo arcebispo do Rio, cardeal eleito Dom Orani João Tempesta, na Paróquia São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca. 
A Sagrada Eucaristia foi concelebrada pelo bispo da Diocese de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso. Na homilia, o arcebispo destacou que o casal fluminense buscou a santidade, vivendo a fraternidade e o amor ao próximo.
“Eles também viveram em tempos difíceis, entre a transição do Império para a República, com forças contrárias à religião e à fé. Com problemas sociais tremendos, como a escravidão e a instabilidade da situação política. Mas aqueles que buscam viver o Evangelho, sabem responder de forma cristã a qualquer situação e dificuldade”, ressaltou Dom Orani.
A etapa jurídica da abertura do processo de beatificação com o Tribunal Eclesiástico aconteceu na noite do dia 18 de janeiro durante a Trezena de São Sebastião, na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana.
No processo canônico será feita a investigação das virtudes heroicas do casal. Após a conclusão da fase arquidiocesana, o processo será enviado para a Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, que poderá reconhecer as virtudes e os milagres e tornar possível a beatificação e, posteriormente, a canonização.

Um casal de virtudes heroicas
Jerônimo de Castro Abreu Magalhães (1851-1909) nasceu em Magé, na Baixada Fluminense, e Zélia Pedreira Abreu Magalhães (1857-1919) em Niterói. Casaram-se em 27 de julho de 1876, na Chácara da Cachoeira, na Tijuca. Ele era engenheiro civil, e ela tinha formação artística, literária e científica. Após morar em Petrópolis, o casal fixou sua residência na Fazenda Santa Sé, perto do município de Carmo, no então Estado do Rio, onde formaram um autêntico lar cristão.
O casal gerou 13 filhos, morreram quatro e os outros nove se consagraram a Deus: três sacerdotes e seis religiosas. Eles eram pessoas de muitas posses e tratavam seus empregados como pessoas amigas. Após a Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888, os antigos escravos, que sempre receberam salário, continuaram na fazenda, porque já eram tratados como pessoas livres.
Na fazenda havia uma capela, onde inúmeras vezes ao dia o casal era visto rezando, assim como também seus escravos, que iniciavam o trabalho do dia sempre com orações, conduzidas por Zélia e Jerônimo no pátio da fazenda. O casal, que catequisava adultos e crianças, construiu uma enfermaria para cuidar dos escravos enfermos.
Após a morte de seu marido e de seu pai, Zélia distribuiu todos os seus bens e consagrou-se na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento.

“Descobrimos o quanto os dois eram maravilhosos”
Em 1937, houve a tentativa de um processo de beatificação de Zélia quando aconteceu a exumação dos ossos dela, mas o processo não foi adiante.
“Na época, a transladação do Cemitério São João Batista, em Botafogo, até a Paróquia Nossa Senhora de Copacabana não pôde ser feita de forma discreta, porque desde a sua morte já havia fama de santidade, e quando o povo de Deus ficou sabendo a multidão saiu às ruas”, recordou o vigário episcopal para a Vida Consagrada e responsável pelos processos de candidatos à causa dos santos da Arquidiocese do Rio, Dom Roberto Lopes, OSB.
O monge beneditino disse que foi por meio da sobrinha neta de Zélia, Cecília Duprat, que a causa voltou a ser analisada pela Arquidiocese do Rio, há cerca de três anos. Nessa época, a equipe da Congregação para as Causas dos Santos percebeu que Jerônimo deveria ser incluído, porque as virtudes heroicas aconteceram na vida familiar, no relacionamento que eles tiveram e pela maneira como juntos educaram os filhos e atuavam na igreja.
Segundo o presidente da Associação Cultural Católica Zélia e Jerônimo, padre João Geraldo Bellocchio, que é pároco da igreja onde estão as relíquias, foram os postuladores da Causa dos Santos que ressaltaram a necessidade de investigar a santidade de Jerônimo.
“Eles disseram: ‘Essa mulher não foi santa sozinha, o marido também é santo’. De fato, quando fomos atrás da vida e histórico do Jerônimo, constatamos que também havia manifestações de fiéis, com testemunhos de graças alcançadas pela intercessão dele”, disse o pároco.
A associação foi criada há dois anos, a partir do incentivo da sobrinha neta de Zélia. Cecília Duprat é paroquiana da Igreja Nossa Senhora da Conceição, na Gávea. “Quando fomos verificar e fazer uma pesquisa descobrimos o quanto os dois eram maravilhosos. Quando os filhos já estavam todos encaminhados, ele pensava em ser franciscano e ela religiosa. Eles já estavam entrando em acordo, só que ele morreu antes, mas conseguiu se tornar terceiro franciscano”, informou Dom Roberto.
A exumação dos restos mortais do Jerônimo foi feita neste mês na cidade do Carmo, Diocese de Nova Friburgo.

Grandes valores
“As virtudes heroicas de Zélia são de mãe de família e esposa. Ela era apaixonada pelo marido, que ela chamava ‘o meu Magalhães’. Era também muito linda a maneira como ela se relacionava com os filhos. Zélia era realmente uma pessoa impressionante, uma mulher santa”, destacou Dom Roberto.
Apesar de todo o poder aquisitivo, eles se voltavam totalmente para os pobres. Nas missões que realizavam, envolviam todos os filhos e ajudavam muitas congregações religiosas.
“Foi Jerônimo, como engenheiro, quem projetou a belíssima igreja Matriz no Carmo e outras igrejas na região, e colaborou no Colégio Anchieta, de Nova Friburgo. Ele tinha uma alma profundamente jesuítica, era guiado por um diretor espiritual da Companhia de Jesus, mas seu coração era franciscano. Podemos ver que era uma família de grandes valores pela maneira como formaram os filhos”, disse Dom Roberto.
O vigário episcopal destacou um trecho escrito por Zélia no dia da ordenação de seu filho: “Este padre era meu, foi eu quem o formei. Sua alma desabrochou no calor da minha. Agora ele não é mais meu, ó meu Deus, mas só Vosso”.
Padre Bellochio afirmou que Jerônimo relatou, por meio de cartas, que a dor de ver um filho partir era consolada pela alegria de saber que estava dando aquele filho para Deus, para a Igreja.
“O que me chamou mais atenção na vida desse casal foi a entrega total de todos os filhos ao serviço do Reino de Deus, além da prática da caridade, do amor e da assistência religiosa que eles davam”, disse.

Conclusão do processo em outubro
Segundo Dom Roberto, é oportuna a abertura do processo no início do ano, em paralelo à preparação do Sínodo dos Bispos, que acontecerá de 5 a 19 de outubro deste ano, no Vaticano, e será dedicado ao tema das famílias.
“A documentação já está muito adiantada, porque está sendo feita há quase três anos. Agora só falta entrevistar algumas pessoas para a formatação de todo o processo. Acredito que até o final do ano poderemos concluir também a primeira fase diocesana do processo canônico do casal. Seria muito belo, e isso é um grande desafio para toda a equipe, a gente conseguir encerrar o processo ao término do sínodo sobre a família, em outubro, porque esse casal tem muito a dizer para o Brasil e para o mundo”, disse o monge.
Padre Bellochio destacou que a abertura do processo de beatificação de Zélia e Jerônimo é uma luz, algo extraordinário, que ressalta o valor da família, diante de tantos contrastes vivenciados na cidade do Rio. “Deus fala para todas as famílias por intermédio desse casal. É muito significativo”, disse o sacerdote.

“O Brasil precisa de santos”
Ressaltando outros candidatos à santidade no Rio, Dom Roberto recordou que em 1980 já houve a abertura do processo canônico da madre Maria José de Capistrano de Abreu, que está no Convento de Santa Teresa, em Santa Teresa. E no ano passado, também no dia 20 de janeiro, da Odetinha.
“Para a Igreja no Rio de Janeiro é algo maravilhoso. João Paulo II nos incentivou tanto dizendo que ‘o Brasil precisava de santos’. E graças a Deus o Rio de Janeiro já tem esses Servos de Deus”, festejou ele.

Novenário perpétuo
Depois que a arquidiocese recebeu o Nihil Obstant (“Nada Impede”) do casal, foi feita a entronização dos quadros deles, no dia 25 de março de 2012, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, na Gávea.
“Isso fez aumentar ainda mais a devoção dos fiéis, porque o povo carioca é muito piedoso”, disse Dom Roberto.
Na paróquia acontece um novenário perpétuo, às quartas-feiras, nas missas das 18h. Segundo padre Bellochio, muitos fiéis já relataram inúmeras graças alcançadas pela intercessão do casal de Servos de Deus.
“Uma de nossas crismandas pedia para seu companheiro, com quem convivia há mais de 20 anos, para realizar o Sacramento do Matrimônio, mas ele se negava sempre, dizendo que nunca casaria na Igreja. Quando ouviu falar do casal Zélia e Jerônimo, ela começou a fazer a novena, sem falar nada em casa. Ela ficou surpresa quando ouviu seu marido dizer: ‘quando é que nós vamos nos casar na Igreja?’ Foi um fato extraordinário porque ela tinha parado de insistir com ele, apenas rezava e pedia a graça”, contou.
A veneração das relíquias do casal Zélia e Jerônimo pode ser feita das 8h às 19h. O endereço da paróquia é Rua Marquês de São Vicente, 19. Informações: 3268-8021/3268-8022.
As graças alcançadas pela intercessão dos Servos de Deus Zélia e Jerônimo podem ser comunicadas pelo email: beatificacao@arquidiocese.org.br ou pelos telefones: 2292-3132 – ramais: 368/307.

Fonte: arqrio.org
  

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