terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Família de Nazaré

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro

“É na família que se aprende a rezar, a amar, a dialogar, perdoar e conviver. É com o leite materno e o abraço paterno que devemos aprender a santa fé católica que o Senhor nos concedeu.”

Estamos dentro do clima de Natal. Entre as festas solenes que celebramos torna-se presente o mistério da encarnação e suas consequências, que tanto alegram a humanidade, contemplando o mistério da Sagrada Família, o anúncio da beleza da família cristã. Ao anunciarmos isso, o nosso coração também se dirige para tantos que se machucaram no decorrer do caminho e tantos outros que procuram caminhos para encontrar a paz interior. Mesmo com toda realidade de hoje sempre é tempo de olhar a beleza da revelação e buscar os caminhos para as nossas famílias.
No domingo dentro da Oitava do Santo Natal, a Santa Mãe Igreja contempla o mistério da Sagrada Família de Nazaré. O Verbo eterno, ao assumir nossa condição humana, encarnou-se e nasceu, viveu e cresceu no seio de uma família humana. “Nós vos bendizemos, Senhor nosso Deus, pois quisestes que o vosso Filho feito homem participasse da família humana e crescesse em estreita intimidade familiar, para conhecer as aflições e provar as alegrias de uma família!” Para a fé cristã, este fato reveste-se de uma significação enorme: ao assumir a família, ao entrar nela e nela humanizar-se, o nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo, santificou a família humana. Já no princípio, quando Deus, na sua sabedoria infinita, viu não ser bom que o homem estivesse só e deu-lhe a mulher por companheira, determinando que os dois fossem uma só carne, desde então a família é sagrada. Isso mesmo: Deus pensou no ser humano nascendo e sendo formado no seio de uma família. E compreendamos bem família: um homem e uma mulher gerando e educando filhos no amor! Uma família, do ponto de vista da revelação é isso! Pois bem: a família, sonhada e instituída por Deus, foi definitivamente abençoada e levada à plena sacralidade pelo Filho eterno quando, fazendo-se homem, santificou e consagrou a vida familiar. “Senhor, nós vos rogamos por nossas famílias: protegei-as e guardai-as, para que, confortadas com o dom de vossa graça, gozem de prosperidade, paz e harmonia, e deem no mundo testemunho de vossa glória”.

Para os cristãos, a família é sagrada: nasce do Sacramento do Matrimônio, no qual o marido e a esposa recebem a graça de viverem como sinal da aliança de amor entre o Cristo-Esposo e a Igreja-Esposa. Nascida do matrimônio, a família vai crescendo pela fecundidade do amor humano aberto à vida, consagrando nas águas do Batismo cada novo membro que nasce. A família se vai alimentando não somente da comida e da bebida da mesa de cada dia, mas, sobretudo, do pão e do vinho, Corpo e Sangue do Senhor, dado e recebido na Eucaristia. A família não é uma realidade simplesmente humana, sociológica! A família é sagrada: querida por Deus, amada por Deus, criada por Deus, sustentada por Deus! A família como Deus a pensou é composta nuclearmente por um esposo, uma esposa e os filhos! Nós pedimos a Deus para que se comportem como verdadeira Igreja doméstica!
Nestes dias saíram os lineamenta, textos escritos em preparação para a convocação de uma assembleia especial de bispos que acontecerá antes do próximo Sínodo sobre a Família marcado para outubro próximo em Roma. Esse texto se fundamenta nas conclusões da III Assembleia Geral do Sínodo de outubro deste ano acrescentadas com perguntas para que o povo de Deus as responda. Do resumo das respostas será elaborado o ‘instrumento de trabalho’ que norteará o Sínodo, cujos encaminhamentos futuros resultarão em provável documento do Papa Francisco sobre o tema. É a Igreja aprofundando a realidade familiar, assim como as dificuldades que hoje se apresentam nessa realidade familiar.
A Sagrada Família – Jesus, Maria e José – é o modelo da família cristã. Esta afirmação é mais que conhecida. A Igreja, nos últimos anos, tem tocado nessa tecla com muita insistência. Ao mesmo tempo tem defendido a família enquanto realidade constituída por um homem e uma mulher com os seus filhos. Sabemos que dentro da realidade hodierna se agregam muitas vezes avós e outros parentes que acabam participando dessa vida familiar.
A família cristã tem o seu modelo na Família de Nazaré e, se trata de viver perto de Deus, ao lado de Deus e ao lado dos demais, com muitas alegrias e com algumas dificuldades!
Caríssimos, lutemos por nossas famílias! Jovens, preparai-vos com responsabilidade para uma vida de família! Que a família não nasça das gravidezes precoces, das relações fora do casamento! Que a família não seja enfraquecida pelo materialismo que enche a casa de bens e a esvazia de amor, de convivência e de diálogo. Que os pais não deleguem a estranhos a educação humana e religiosa de seus filhos! Muitas vezes a família passa por sofrimentos e dificuldades como desemprego, separação, emigração, distâncias dos entes queridos! Mesmo assim, a luz de Cristo que brilha no meio de nossas famílias deve nos encher de graça e paz! Pais cristãos, que vossos filhos aprendam convosco a rezar e a viver! Estejamos bem conscientes: não há esperança para o mundo quando se destrói a família; não há futuro para a Igreja se se perde a noção da sacralidade de nossos lares! É na família que se aprende a rezar, a amar, a dialogar, perdoar e conviver. É com o leite materno e o abraço paterno que devemos aprender a santa fé católica que o Senhor nos concedeu.
Voltemos nosso olhar e nosso coração para a Família de Nazaré: pobre, sujeita a conflitos e crises, feita de lágrimas e alegrias, de convivência e esperanças. Família de Nazaré, tão igual a nossa, tão diferente da nossa! Santo Carpinteiro José, velai pelos esposos: que sejam fortes e suaves, que sejam responsáveis e fiéis, que sejam piedosos e cheios de doçura paterna, que sejam presentes ao lar e à educação de seus filhos. Santíssima Virgem Maria, olhai para as mães: que sejam defensoras da vida, que nunca percam de vista a dignidade imensa da maternidade! Que nem o trabalho nem o sucesso profissional as façam perder de vista a prioridade e santidade de sua vocação materna e a necessidade de aquecer o lar e os filhos com seu amor e sua presença. Senhor Jesus, Menino nascido para ser nossa paz, velai pelos filhos, velai pelas crianças e não permitais que a vida humana seja assassinada pelo aborto e pelas experiências sacrílegas com embriões humanos! Que os filhos cresçam como tu cresceste: no calor de um pai e de uma mãe, no aconchego de um lar, na piedade da oração familiar e da simplicidade das lutas de cada dia! E que possamos louvar-te eternamente, um dia, com José e Maria de Nazaré. Amém.

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