Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
do Rio de Janeiro
“É na família que se aprende
a rezar, a amar, a dialogar, perdoar e conviver. É com o leite materno e o
abraço paterno que devemos aprender a santa fé católica que o Senhor nos
concedeu.”
Estamos dentro do clima de Natal. Entre as
festas solenes que celebramos torna-se presente o mistério da encarnação e suas
consequências, que tanto alegram a humanidade, contemplando o mistério da
Sagrada Família, o anúncio da beleza da família cristã. Ao anunciarmos isso, o
nosso coração também se dirige para tantos que se machucaram no decorrer do
caminho e tantos outros que procuram caminhos para encontrar a paz interior.
Mesmo com toda realidade de hoje sempre é tempo de olhar a beleza da revelação
e buscar os caminhos para as nossas famílias.
No domingo dentro da Oitava do Santo Natal, a
Santa Mãe Igreja contempla o mistério da Sagrada Família de Nazaré. O Verbo
eterno, ao assumir nossa condição humana, encarnou-se e nasceu, viveu e cresceu
no seio de uma família humana. “Nós vos bendizemos, Senhor nosso Deus, pois
quisestes que o vosso Filho feito homem participasse da família humana e
crescesse em estreita intimidade familiar, para conhecer as aflições e provar
as alegrias de uma família!” Para a fé cristã, este fato reveste-se de uma
significação enorme: ao assumir a família, ao entrar nela e nela humanizar-se,
o nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo, santificou a família humana. Já no
princípio, quando Deus, na sua sabedoria infinita, viu não ser bom que o homem
estivesse só e deu-lhe a mulher por companheira, determinando que os dois
fossem uma só carne, desde então a família é sagrada. Isso mesmo: Deus pensou
no ser humano nascendo e sendo formado no seio de uma família. E compreendamos
bem família: um homem e uma mulher gerando e educando filhos no amor! Uma
família, do ponto de vista da revelação é isso! Pois bem: a família, sonhada e
instituída por Deus, foi definitivamente abençoada e levada à plena sacralidade
pelo Filho eterno quando, fazendo-se homem, santificou e consagrou a vida
familiar. “Senhor, nós vos rogamos por nossas famílias: protegei-as e
guardai-as, para que, confortadas com o dom de vossa graça, gozem de
prosperidade, paz e harmonia, e deem no mundo testemunho de vossa glória”.
Para os cristãos, a família é sagrada: nasce
do Sacramento do Matrimônio, no qual o marido e a esposa recebem a graça de
viverem como sinal da aliança de amor entre o Cristo-Esposo e a Igreja-Esposa.
Nascida do matrimônio, a família vai crescendo pela fecundidade do amor humano
aberto à vida, consagrando nas águas do Batismo cada novo membro que nasce. A
família se vai alimentando não somente da comida e da bebida da mesa de cada
dia, mas, sobretudo, do pão e do vinho, Corpo e Sangue do Senhor, dado e
recebido na Eucaristia. A família não é uma realidade simplesmente humana,
sociológica! A família é sagrada: querida por Deus, amada por Deus, criada por
Deus, sustentada por Deus! A família como Deus a pensou é composta nuclearmente
por um esposo, uma esposa e os filhos! Nós pedimos a Deus para que se comportem
como verdadeira Igreja doméstica!
Nestes dias saíram os lineamenta, textos
escritos em preparação para a convocação de uma assembleia especial de bispos
que acontecerá antes do próximo Sínodo sobre a Família marcado para outubro
próximo em Roma. Esse texto se fundamenta nas conclusões da III Assembleia
Geral do Sínodo de outubro deste ano acrescentadas com perguntas para que o
povo de Deus as responda. Do resumo das respostas será elaborado o ‘instrumento
de trabalho’ que norteará o Sínodo, cujos encaminhamentos futuros resultarão em
provável documento do Papa Francisco sobre o tema. É a Igreja aprofundando a
realidade familiar, assim como as dificuldades que hoje se apresentam nessa
realidade familiar.
A Sagrada Família – Jesus, Maria e José – é o
modelo da família cristã. Esta afirmação é mais que conhecida. A Igreja, nos
últimos anos, tem tocado nessa tecla com muita insistência. Ao mesmo tempo tem
defendido a família enquanto realidade constituída por um homem e uma mulher
com os seus filhos. Sabemos que dentro da realidade hodierna se agregam muitas
vezes avós e outros parentes que acabam participando dessa vida familiar.
A família cristã tem o seu modelo na Família
de Nazaré e, se trata de viver perto de Deus, ao lado de Deus e ao lado dos demais,
com muitas alegrias e com algumas dificuldades!
Caríssimos, lutemos por nossas famílias!
Jovens, preparai-vos com responsabilidade para uma vida de família! Que a
família não nasça das gravidezes precoces, das relações fora do casamento! Que
a família não seja enfraquecida pelo materialismo que enche a casa de bens e a
esvazia de amor, de convivência e de diálogo. Que os pais não deleguem a
estranhos a educação humana e religiosa de seus filhos! Muitas vezes a família
passa por sofrimentos e dificuldades como desemprego, separação, emigração,
distâncias dos entes queridos! Mesmo assim, a luz de Cristo que brilha no meio
de nossas famílias deve nos encher de graça e paz! Pais cristãos, que vossos
filhos aprendam convosco a rezar e a viver! Estejamos bem conscientes: não há
esperança para o mundo quando se destrói a família; não há futuro para a Igreja
se se perde a noção da sacralidade de nossos lares! É na família que se aprende
a rezar, a amar, a dialogar, perdoar e conviver. É com o leite materno e o
abraço paterno que devemos aprender a santa fé católica que o Senhor nos
concedeu.
Voltemos nosso olhar e nosso coração para a
Família de Nazaré: pobre, sujeita a conflitos e crises, feita de lágrimas e
alegrias, de convivência e esperanças. Família de Nazaré, tão igual a nossa,
tão diferente da nossa! Santo Carpinteiro José, velai pelos esposos: que sejam
fortes e suaves, que sejam responsáveis e fiéis, que sejam piedosos e cheios de
doçura paterna, que sejam presentes ao lar e à educação de seus filhos.
Santíssima Virgem Maria, olhai para as mães: que sejam defensoras da vida, que
nunca percam de vista a dignidade imensa da maternidade! Que nem o trabalho nem
o sucesso profissional as façam perder de vista a prioridade e santidade de sua
vocação materna e a necessidade de aquecer o lar e os filhos com seu amor e sua
presença. Senhor Jesus, Menino nascido para ser nossa paz, velai pelos filhos,
velai pelas crianças e não permitais que a vida humana seja assassinada pelo
aborto e pelas experiências sacrílegas com embriões humanos! Que os filhos
cresçam como tu cresceste: no calor de um pai e de uma mãe, no aconchego de um
lar, na piedade da oração familiar e da simplicidade das lutas de cada dia! E
que possamos louvar-te eternamente, um dia, com José e Maria de Nazaré. Amém.
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